Vejo o rosto todo arquear, sucumbir, deformar-se aos poucos. Vagarosamente. É o orgulho, a vergonha, a covardia que o mantém firme ou parcialmente firme. E então o rosto se movimenta com a expressão. O pescoço se move, usualmente na diagonal e sempre para baixo. Esconde a parte que sente e evita os soluços. Resiste por mais algum tempo.
Com o indicador fixado na ponta do queixo ergo a face que tem vergonha e observo que suas narinas parecem lutar contra a expressão que este rosto quer expor. Deixo-o, o rosto, seguir à vontade. Suas sobrancelhas encolhem e, assim, enrugam toda a sua testa. Seus olhos parecem esmagados pelas pálpebras que se contraem. Se avermelham aos poucos. Agora já parecem mortos ali dentro, afogados em toda aquela água, deliberadamente infelizes. Vejo então a face feia, a face verdadeira. Vejo então o que a tristeza pode fazer com a face.
Então abraço-lhe, dou-lhe todo o consolo possível, digo-lhe tudo o que sinto, faço o possível para dar-lhe consolo. Até ver que as lágrimas secaram ao sopro de minhas palavras, a água que afogava os olhos limpou o vermelho, vazou pelo rosto e, salgada, temperou a degustação daquela amarga tristeza. Disse-lhe o quanto amo, falei tanto quanto pude, tudo o que sentia. E, nem pude notar o que havia acontecido. Aquele rosto, um pouco inchado, que chorava suas mazelas, que mostrava suas fraquezas, tomava forma outra vez. Afastou-se do meu ombro, vagarosamente, olhou-me sorridente no fundo dos olhos e soou palavras que diziam: “De que me valeria o mundo se não tivesse teu amor? Amo-te mais que à vida”. Beijou-me e é feliz ao meu lado.
terça-feira, 14 de outubro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
o final justificou os meios.
a tristeza deforma o rosto, a mente e o coração.
Postar um comentário