terça-feira, 25 de agosto de 2009

Buquê de Flores

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Em suas mãos, equilibrava um grande e belo buquê de flores. Podia sentir a água morna deslizando por suas bochechas enquanto a olhava. Era triste o olhar do pobre homem que se manteve calado até o último segundo. Olhava fixo com um aspecto desolado e perdido como quem não sabia bem o que ali fazia. Os que passavam o olhavam de lado, não entendiam bem, mas imaginavam coisas. Fora, outrora, alheio a tal dor. Desconhecia.

Diante dela, sem largar as flores, sentia um aperto tão forte no coração que já se poderia, apenas de muito perto, escutar os breves e sentidos murmúrios do pobre rapaz de olhar e aparência já moribundos. Sempre fora falante e, naquele momento, não encontrava vocábulo adequado. Sofria, ainda mais, por isso.

Ela, nada falaria, mesmo que lhe pedisse por obséquio. Mesmo que lhe implorasse. Não ouviria mais uma palavra sequer daquela que havia lhe provido tantas alegrias. Quem dera não fosse tarde demais, pensava. E se em outra época lhe dissesse tudo o que sentia, haveria ele de sofrer o que sofria agora?

Não podia mais ficar ali. Ajoelhou-se. Abaixou a cabeça entre um soluço e outro. Suas lágrimas já esboçavam um rosto desfigurado, inchado, triste. Levou todas as flores até o chão. Lá, as deixou.

Calado, disse suas únicas três palavras audíveis: “Sempre te amarei”. Leu o nome de sua mãe escrito no túmulo, virou-se e foi.
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Augusto Simões