segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Breve (Augusto Simões)

Quando já não esperava mais, cravou-me um beijo e não quis mais nada. Nem parecia tão distante. Atravessou o mundo e não se importou com o desconhecido. Deu-se, quis e quis mais. Nada parecia menos, tudo tornou-se mais. Queríamos mais, fomos muito mais, sentimos demais. Tudo era pouco perto de nós. Nenhuma alegria nos alcançava, nenhum sorriso era mais aberto. Beijamo-nos aos pulos, aos abraços, sentados, encostados, esbarrando em todos enquanto girávamos juntos. Virávamos um só e só nos soltávamos quando pensávamos se seriamos além. O que seria além, uma vez que nos encontrávamos muito além do que achávamos ser além. Distantes de todos, em meio à multidão, éramos outros e todos sem qualquer distinção. Apenas tudo o que precisávamos. Nem sequer sonhávamos por que lá já era o sonho que nunca sonhamos ter. Tudo erámos nós, nós éramos tudo e nada havia entre nós. Só fomos e mesmo que pudéssemos ainda ser, seriamos um pouco menos, por que nada será como fomos. 

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