quarta-feira, 6 de julho de 2011

Tudo bem, já passou.

- Tudo bem, já passou.

Quisera eu que suas lágrimas fossem minhas, que sua dor fosse minha e que só lhe restasse a lição e a maturidade que há muito já adquiri. Deixou-se deitar em meu peito depois de tanto pranto qual deixa-se seguramente no travesseiro de sua cama após fadigada. Senti seu coração pulsar mais leve, agora que já derramara seu pranto sobre meus ouvidos e acalmava-se ao refletir minhas palavras.

- Por hora não sei como dizer – confessava aos soluços – posto que minhas atitudes não refletem todo o meu coração.

- Pois tente. Nada é pior para um coração que guardar tais mazelas sem saber o que fazer com elas.

- Pus-me a desfazer tudo aquilo que lutei para construir. Demolindo um prédio dentro de mim, mas os alicerces não me deixam sossegar. Cravados metros a fundo. Tropeço sempre que tenho a intenção de um passo mais largo. Vejo-me tão livre, tão plena, mas, ao mesmo tempo, tão presa.

- Diz-se que o que não podemos vencer, devemos aprender a viver junto. Não que devas voltar ao passado, mas que deves saber conviver com ele. Não pense em se livrar, mas em compreendê-lo na situação atual e vê-lo como a base para sua nova vida.

- Tarefa difícil esta.

- Mais difícil foi deixar o passado para trás. Agora, resta-lhe repor as forças e seguir com a segunda etapa desta empreitada.

- Entendo, mas ainda assim dói. Dói muito!

- Não te desesperes. Pensa que a dor de um parto é a felicidade de um filho. Felicidade esta que se estende para a mãe que sente a dor, para o filho que sai de seu conforto e para cada um dos membros que estão ao redor e comemoram uma dor que simboliza o início de uma nova vida cheia de alegrias e atropelos, mas tomada de novas possibilidades de amor.

- Pensando assim, parece até bom. Mas quando finda esta dor?

- Assim que tiver de findar. Deixe a felicidade que te culpa se sobrepor ao medo que te prende. Procure enxergar que, nesta balança, o maior peso está no que mais presas. A felicidade.

- Sinto que palavras são mais simples que as experiências e, mesmo ao brandear meu penar por hora, não soluciona meu pesar.

- Queria que fosse mais simples, porém sem vivê-las jamais saberás do que digo. Contudo lhe digo apenas para que à medida que vás enxergando, pouco a pouco, a solução, a compreenda mais facilmente auxiliada por minhas palavras.

- Temo que dure muito, mas vejo-lhe paciente, meu bem.

- Não há pressa para nós. Apenas deite-se e deixe-se em seus pensamentos. Mais tarde seremos apenas nós.

- O quão cedo, meu bem. O quão cedo.

Perdi a ansiedade há muito. Por mais que muito queira como quero muito, quero por completo e de verdade, não apenas a ilusão da paixão, entretanto mais, muito além disso.

(A.S.)