terça-feira, 16 de novembro de 2010

O que será que me dá?

Não sei bem o que pensam sobre o amor. Muito menos o que sentem quando amam, aqueles que não sou eu. Sei, apenas, o que minhas experiências me ensinaram sobre este sentimento, dito tão nobre, porém tão confuso, significa para mim. Não são poucas palavras para descrever esta simples palavras de quatro letras, como tantos a descrevem, claro, no meu ver. Contudo, não acho que seja de pouca importância descrever aqui, talvez, apenas mais uma forma de descrevê-lo.

Há alguns anos, ouvi de meu avô, homem simples, do interior da Paraíba, cercado de vivência inocentes, educado por uma cultura arraigada de preconceitos e machismo, contudo, cercada de reflexões e estudos religiosos, que o amor é algo, comumente confundido com a paixão. O que não é algo difícil de concordar.

No passar dos anos, depois que se conhece o amor. Cedo. Na infância. O mais buscado e esperado sentimento de todos, torna-se uma maneira confusa de obsessão. A criança conhece o amor da mãe, quando não, também, do pai, e o entende como algo infindável. De certo, descobre a forma mais delicada, dedicada e real de amar.

Ao alcançar certa idade, tal sentimento passa a ser almejado e procurado em outras figuras (pulando, é claro, a fase em que, usualmente, o amor materno e paterno são vistos de forma repulsiva por muitos de nós). Nestas figuras, a principio os amigos, encontram-se os primeiros “amáveis paradoxos” para não dizê-los paradoxos do amor. Então, começamos a confundir a pureza deste sentimento.

Naturalmente, temos um amor e tratamento exclusivos de nossos pais, mesmo que não sejamos filhos únicos. Assim, logo os definimos de forma única e exclusiva. Por conseqüência, levamos este conceito para as novas experiências de nossas vidas, as amizades, que por sua vez, não são de um todo exclusivas (na maioria das vezes). Assim, achamos de ter ciúmes, sentimentos de posse e até cobranças quando encontramos esta relação.

Nossa “doença” por exclusividade torna-se cada vez mais difícil. Até que, por vezes, deixamos de lado a noção de exclusividade e buscamos o grau de preferência. Quando, sem aprofundar em termos culturais que nos levam à competitividade involuntária, buscamos o destaque, a qualidade de melhor. Melhor amigo. O que quer dizer, o mais exclusivo, o mais importante, logo, o “filhinho do papai”, aquele a quem se dá mais importância ou tem um valor diferenciado dos outros.

Ainda nesta passagem, encontramos outra forma de nos achar exclusivos, únicos, donos do amor. Encontramos a mais complicada das emoções quando se trata de definições e encontros ou discrepâncias e convergências de definições. A tal da paixão.

Paixão é um fenômeno biologicamente ou psicologicamente explicável. Sim, semelhante a algumas características do amor, ela é intensa, transformadora, digna de feitos inexplicáveis. Porém, limita-se ao sentimento de posse. “Paixão dá e passa”, falam as músicas. Paixão é digna da carne. Afeta o coração, dá calafrios, estremece as pernas, contudo, não liberta. Essa emoção se vincula com palavra possessividade de forma tão clara e tão sombria ao mesmo tempo em que fica difícil dizer até onde faz bem ou até onde faz mal.

Em certo filme, chamado “Pecado Original”, um personagem questiona o outro de forma simples. Pergunta se o protagonista quer dar tudo para a amante ou ter tudo. E a resposta admite as duas vontades. O que é o mais comum. Dificilmente a paixão não vem junto ao amor. São duas expressões que, no âmbito das relações “conjugais”, caminham de mãos dadas.

Há muitos anos, assisti um filme que tratava de história simples. Comum. Narrava a passagem de um casal de interior cuja noiva fora prometida ao jovem de família rica desde sua nascença. Como em todo drama (ou quase todo, pra aliviar os “originais”), a menina se apaixonara por outro rapaz com quem terminara fugindo na data de seu casamento. Acostumado com a história, antevi que o noivo haveria de armar uma “caça” ao homem que o “desonrou” na data de seu “casório”, quase desliguei a televisão para arrumar algo mais o que fazer. Porém, fisgado pela admiração que tive pelas interpretações de bons atores, me mantive atento à trama até que viesse o “mais que óbvio” final.

Assim, como mais uma lição pra minha vida, tive uma agradável surpresa. Posto que o escritor da obra fez-se original quando mudou a reação do noivo abandonado no altar e colocou falas e cenas completamente surpreendentes – para mim – naquela época.

Deu-se que, no lugar de revolta, o noivo demonstrou a tristeza digna de alguém que ama e perde seu amor, entretanto, demonstrou o amor da forma que até hoje terminei por absorver e admitir. Ao ver sua noiva partindo e o tal rebuliço na igreja, atinou logo para o coração. E, com os olhos molhados de lágrima, chamou a multidão para a festa do casamento.

Questionado sobre o motivo da comemoração, já que o casamento não se dera, embalou e ensinou meu coração dizendo que, fosse como fosse, amava a mulher de verdade, não a queria pra si, mas a queria feliz, e se a felicidade dela não estava com ele, que estivesse onde estivesse, o faria feliz sabe-la feliz onde quer que estivesse.

Desde então, concebi a diferença entre amor e paixão. Paixão é posse, atração, o querer pra si. Amor é carinho, é dedicação, é querer feliz.

Não quero para mim as pessoas que amo. As quero felizes, seja onde for, com quem for. E, se comigo encontrarem a felicidade, serei feliz ao lado delas.

(A.S.)



Escrevi isto meio bêbado, então, me perdõem as falhas e espero que agrade.

:D