quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Harmônico

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Na falta de ritmo ou cadência, tocou um samba desconcertado, mas acertou na letra, improvisada. Soltou os pensamentos em rimas mal encontradas e se fez feliz com o que fazia. Ao longe, fora observado por quem passava e não ouvia. De fora, até parecia um samba feito, mal tocado. Mas as cordas eram velhas, o violão baixo e as mãos eram lentas. Trocando acorde a acorde, perdia o tom da voz e escorregava naquela letra que lhe aparecia na hora.

Ao deleite de um segundo refrão, observou-se, só. Jamais se viu tão bem acompanhado. Achou-se no sentido de encontrar-se e se deu mais de si como presente para aquela data que, desde aquele momento, tornava-se comemorativa. Abraçou-se mais ao instrumento, feriu as cordas com menos força até que encostou o ouvido na caixa. Podia sentir-se parte dela. E soava junto, harmonizava cada nota saída da canção que não voltaria a ouvir.

Deu-se por demais ao encanto daquela melodia, daquela letra. Agarrou-se ainda mais ao violão até que sonhou com o resto da música. Despertou e partiu, sem musa, sem música, sem sono, mas com o sorriso de quem encontrou o par perfeito.


(A.S.)

terça-feira, 16 de novembro de 2010

O que será que me dá?

Não sei bem o que pensam sobre o amor. Muito menos o que sentem quando amam, aqueles que não sou eu. Sei, apenas, o que minhas experiências me ensinaram sobre este sentimento, dito tão nobre, porém tão confuso, significa para mim. Não são poucas palavras para descrever esta simples palavras de quatro letras, como tantos a descrevem, claro, no meu ver. Contudo, não acho que seja de pouca importância descrever aqui, talvez, apenas mais uma forma de descrevê-lo.

Há alguns anos, ouvi de meu avô, homem simples, do interior da Paraíba, cercado de vivência inocentes, educado por uma cultura arraigada de preconceitos e machismo, contudo, cercada de reflexões e estudos religiosos, que o amor é algo, comumente confundido com a paixão. O que não é algo difícil de concordar.

No passar dos anos, depois que se conhece o amor. Cedo. Na infância. O mais buscado e esperado sentimento de todos, torna-se uma maneira confusa de obsessão. A criança conhece o amor da mãe, quando não, também, do pai, e o entende como algo infindável. De certo, descobre a forma mais delicada, dedicada e real de amar.

Ao alcançar certa idade, tal sentimento passa a ser almejado e procurado em outras figuras (pulando, é claro, a fase em que, usualmente, o amor materno e paterno são vistos de forma repulsiva por muitos de nós). Nestas figuras, a principio os amigos, encontram-se os primeiros “amáveis paradoxos” para não dizê-los paradoxos do amor. Então, começamos a confundir a pureza deste sentimento.

Naturalmente, temos um amor e tratamento exclusivos de nossos pais, mesmo que não sejamos filhos únicos. Assim, logo os definimos de forma única e exclusiva. Por conseqüência, levamos este conceito para as novas experiências de nossas vidas, as amizades, que por sua vez, não são de um todo exclusivas (na maioria das vezes). Assim, achamos de ter ciúmes, sentimentos de posse e até cobranças quando encontramos esta relação.

Nossa “doença” por exclusividade torna-se cada vez mais difícil. Até que, por vezes, deixamos de lado a noção de exclusividade e buscamos o grau de preferência. Quando, sem aprofundar em termos culturais que nos levam à competitividade involuntária, buscamos o destaque, a qualidade de melhor. Melhor amigo. O que quer dizer, o mais exclusivo, o mais importante, logo, o “filhinho do papai”, aquele a quem se dá mais importância ou tem um valor diferenciado dos outros.

Ainda nesta passagem, encontramos outra forma de nos achar exclusivos, únicos, donos do amor. Encontramos a mais complicada das emoções quando se trata de definições e encontros ou discrepâncias e convergências de definições. A tal da paixão.

Paixão é um fenômeno biologicamente ou psicologicamente explicável. Sim, semelhante a algumas características do amor, ela é intensa, transformadora, digna de feitos inexplicáveis. Porém, limita-se ao sentimento de posse. “Paixão dá e passa”, falam as músicas. Paixão é digna da carne. Afeta o coração, dá calafrios, estremece as pernas, contudo, não liberta. Essa emoção se vincula com palavra possessividade de forma tão clara e tão sombria ao mesmo tempo em que fica difícil dizer até onde faz bem ou até onde faz mal.

Em certo filme, chamado “Pecado Original”, um personagem questiona o outro de forma simples. Pergunta se o protagonista quer dar tudo para a amante ou ter tudo. E a resposta admite as duas vontades. O que é o mais comum. Dificilmente a paixão não vem junto ao amor. São duas expressões que, no âmbito das relações “conjugais”, caminham de mãos dadas.

Há muitos anos, assisti um filme que tratava de história simples. Comum. Narrava a passagem de um casal de interior cuja noiva fora prometida ao jovem de família rica desde sua nascença. Como em todo drama (ou quase todo, pra aliviar os “originais”), a menina se apaixonara por outro rapaz com quem terminara fugindo na data de seu casamento. Acostumado com a história, antevi que o noivo haveria de armar uma “caça” ao homem que o “desonrou” na data de seu “casório”, quase desliguei a televisão para arrumar algo mais o que fazer. Porém, fisgado pela admiração que tive pelas interpretações de bons atores, me mantive atento à trama até que viesse o “mais que óbvio” final.

Assim, como mais uma lição pra minha vida, tive uma agradável surpresa. Posto que o escritor da obra fez-se original quando mudou a reação do noivo abandonado no altar e colocou falas e cenas completamente surpreendentes – para mim – naquela época.

Deu-se que, no lugar de revolta, o noivo demonstrou a tristeza digna de alguém que ama e perde seu amor, entretanto, demonstrou o amor da forma que até hoje terminei por absorver e admitir. Ao ver sua noiva partindo e o tal rebuliço na igreja, atinou logo para o coração. E, com os olhos molhados de lágrima, chamou a multidão para a festa do casamento.

Questionado sobre o motivo da comemoração, já que o casamento não se dera, embalou e ensinou meu coração dizendo que, fosse como fosse, amava a mulher de verdade, não a queria pra si, mas a queria feliz, e se a felicidade dela não estava com ele, que estivesse onde estivesse, o faria feliz sabe-la feliz onde quer que estivesse.

Desde então, concebi a diferença entre amor e paixão. Paixão é posse, atração, o querer pra si. Amor é carinho, é dedicação, é querer feliz.

Não quero para mim as pessoas que amo. As quero felizes, seja onde for, com quem for. E, se comigo encontrarem a felicidade, serei feliz ao lado delas.

(A.S.)



Escrevi isto meio bêbado, então, me perdõem as falhas e espero que agrade.

:D

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Tempo Corrido

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Aparentemente textos curtos são mais lidos. Os longos assustam. Lógica comum no mundo da velocidade, no tempo que informação é só o básico, por que informação demais é prejudicial. Lemos bulas, livros e o que mais aparecer, correndo, sempre correndo. Não há mais contemplação na leitura. Apenas informação.

Poucos os que me falam de livros pelo prazer de suas histórias. Tenho ouvido coisas como: “O autor quis dizer isso”, “O contexto parece niilista.” Há tempos não ouço nada sobre como é a história, o fulano que corre atrás da cicrana e o beltrano que corre o mundo para salva-lo. Histórias têm virado tanto clichê que as análises mais profundas e conjecturas infinitas sobre assuntos já passados e relacionados aos sistemas ou análises de sistemas atuais baseadas em idéias passadas que culminaram em tal ou tal resultado na sociedade atual.

Histórias deixaram de ser histórias, estória já nem se fala mais. Algumas palavras se perdem numa sociedade dotada de maioria não leitora e minoria alfabetizada. Os contos e pequenas peças são mais apresentáveis. Os filmes contam um resumo das narrativas dos livros, logo, para quê lê-los?

Neste descaso com as palavras, nesta nova literatura internetês (linguagem utilizada no meio virtual), o que resta aos amantes da leitura são os velhos livros. Pois de novo só há o produto de análises mais profundas e conjecturas infinitas sobre assuntos já passados e relacionados aos sistemas ou análises de sistemas atuais baseadas em idéias passadas que culminam em tal ou tal resultado na sociedade atual.

Paro por aqui para não assustar com o tamanho do texto.

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(A.S.)

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Por Dentro

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Já não espantavam as tamanhas paredes, vazias de cores, despidas de quadros. Tampouco a decoração, já há muito abandonada, que se dispunha como sempre em posição, porém tão conservadas quanto o resto. Ali, onde vibrava a vida, só vagavam insetos. Cortinas transpareciam, disformes, tecidas pelo tempo, a imagem que se tinha. Sem deixar passar as poltronas, massacradas pelo uso, pelo mofo, pelos pêlos que ainda vagavam por ali. Deixava-se entender que nem sempre fora assim. Sim, as manchas no tapete imundo ainda eram visíveis, assim como o pó da madeira há muito comida pelos, já obesos, cupins. Passou-se o tempo e lá estava a ferrugem após comer cada abajur sem lâmpada que ainda restava. Não circulava vento e o mofo tomava as paredes com a pouca umidade que restava naquele lugar. Dominava tudo. Fora, só se via a brisa que nada lembrava. Tudo se foi. Não sobrava nada naquele lugar, senão o esquecimento.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Bom Dia (A.S.)

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Tenho visto o sol nascer novamente....


Ah! Essas idas e vindas da vida, o que resta é aproveitar enquanto não está quente demais, ou frio demais, nem claro demais, nem escuro demais, quando, ao mesmo tempo, pode ser hora de ir deitar, ou de levantar, posto que o amanhecer é o começo do dia de tantos, mas apenas o fim de mais uma noite para os boêmios.
Despertando para a vida ou acordando para os sonhos,

Eis, outra vez,

O sol voltando a nascer.