sábado, 27 de dezembro de 2008

Café da Manhã

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Seguiu o dia à poética. Todo o dia era bom. O sol que raiava, os pássaros cantavam como de costume, mas, antes, nada era percebido, hoje poderia correr de casa até o trabalho. Primeiro, pediu-lhe que descansasse mais, iria só até o trabalho, já lhe fizera tão bem na noite anterior que não haveria de considerar, depois de um sonho vivido e um café na cama, indelicadeza que este voltasse aos seus sonhos – visto que não lhe era de hábito despertar tão cedo. Deu-lhe um beijo, até parecia o primeiro, na porta de casa e seguiu, sem parecer atrasada, para suas funções diárias.

Já em seu escritório, sua modesta sala de duas mesas e um computador, não conseguia deixar de lado a sensação de bem estar. Seu chefe parecia mais calmo, bem alinhado, imaginava que sua esposa também lhe fizera bem na noite anterior. Em seu estado não poderia relacionar a felicidade com qualquer outra coisa. Pudera, já se passava muito tempo desde que vivera aquelas emoções da última vez.

Abrindo seu e-mail, em busca se informações ou novidades burocráticas a cerca de sua vida prática, deparou-se com surpresa incomum. Havia lá uma mensagem de título “Café da Manhã” cujo remetente era o homem que deixara dormindo mais cedo.Ainda achava disposição para surpreende-la. Dizia o texto:

“Não há bom dia mais feliz do que aqueles que recebo de você. Aqueles ainda na cama, com remelas, num sorriso, com uma cara amassada, com cabelos asanhados, num despertar macio e apaixonado, com um beijo na nuca, com uma disposição incomum de se mover logo de manhã, com fome, num carinho só nosso. Não há bom dia mais feliz do que aqueles que recebo com seu amor, depois de dormir ao seu lado e acordar com seus beijos e seu ar apaixonado! AMO-TE!”

Rendeu-se à tal delicadeza, acanhou-se e, tímida, sorriu.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Informativo

Os textos "Coito", "À Poética", "Moça que Sonha" e "Moça que Acorda", como fica fácil perceber, fazem parte de uma só obra. Na verdade estou mudando de primeira pra terceira pessoa direto porque estou animado com estes textos e pretendo publica-los posteriormente. Aos interessados, publicarei alguns trechos e até capitulos num outro blog dedicado apenas a esta série de textos.

Eis o endereço:

http://seriebelamoca.blogspot.com/

Espero que gostem de lê-los tanto quanto eu gosto de escrevê-los

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Moça que acorda

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Naquela hora já se perdia numa corrida confusa onde, por mais que fugisse era alcançada, por mais que se escondesse era achada, e se afligiu. Subitamente, fechou fortemente os olhos, e desmaiou.

Quando abriu os olhos notou o sol tentando penetrar pela janela iluminando parte do cômodo. Não se via, estava há poucos segundos numa espécie de rua escura, sombria, sendo perseguida por um desconhecido que parecia conhecer todos os seus passos. Mas o dia clareara, e ela entendia, vagarosamente que estava num quarto. Seu corpo, não cansado, parecia bem aquecido e preguiçava enquanto sua retina lutava contra a luz que, mesmo pouca, lhe parecia ofuscante. Bocejou e ao esticar-se num gesto de preguiça notou-se nua. Pudera, algo de estranho havia acontecido, morria de frio em noites comuns e se encontrava despida ouvindo um ventilado a girar na maior força possível. Trazia-lhe vendo e, ainda assim, não tinha frio. Como poderia, era sensível às baixas temperaturas e jamais toleraria vento de tamanha força em sua direção sem seus tremores friorentos.

Assustada, sentiu-se bem. A dor de cabeça tomava-lhe a paciência enquanto se esvaíra a lembrança recente das ruas escuras de momentos atrás. Vinham-lhe lembranças desconexas até que ouviu passos. Sim, estava num quarto, despertara indisposta e assustava-se com os passos que ouvia. A maçaneta moveu-se e a porta abriu. Uma mistura de pânico e bem-estar invadiu-lhe a cabeça quando surgiu a bandeja carregada de alimentos leves. Sentia o cheiro do queijo frito e via o pão fresco. Olhou nos olhos daquele homem e disse:”Bom dia, meu amor, tive um sonho esquisito, acho que bebi demais ontem.”

Servida na cama, tomou seu café da manhã, deitou-se ao lado dele, em seu peito, e ouviu palavras doces pela próxima meia hora.

Augusto Simões

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

À Poética



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Sentia-se mais leve à medida que se aliviava dos apertos. Pudera, passara horas presa naquelas medidas, apertadas, bem acabadas. Mas o calor não lhe abandonava, estava tonta da taça que secou algumas vezes e o álcool não a deixara refrescar. Não, não quis o banho quando chegou, sentiu-se ao mesmo tempo preguiçosa e disposta, diante de seus pensamentos, sem os limites de costume, sem qualquer restrição, a embriaguez livrara-a. Entorpecida, dançava e cantava suas músicas e seus desejos, parodiava as melodias com intenções e mordia os lábios murmurando, ascendente e suave em sua cadência, seus passos, seus suspiros.

Sorria, sim, sem motivo aparente, sorria do que lhe vinha à mente, dos pensamentos, e pulava levemente contornando os móveis do cômodo, passeava ao redor de tudo, queria dividir sua alegria vinda de lugar algum com tudo. Deixava todos tontos e sorria como uma criança que ri das próprias fantasias e não aparenta loucura, só pureza.

Também degustava, alisava os quadros, as dobras, as peles, almejava sentir os detalhes de cada espessura que não sentia, usava e abusava de seu tato. Com os dedos, as mãos, os braços, pés, pernas, barriga, costas, queria sentir tudo, tocar tudo. Não demorava para sentir frio. Ainda suava em seu calor, em seu torpor, e, toque a toque, conhecia mais suas sensações, suas emoções. Era toda ela. Vestia-se de si e cantava pedindo mais um trago daquela bebida, com sua maquiagem desfeita e seu semblante livre, leve, solta, vaidosa, sonhava com o momento que vivia. Jamais escolheria estar em outro lugar, viver outro momento, outra companhia. Envolta de suor e parte indispensável daquele cenário, era ela, assistindo tudo em primeira pessoa. Narraria tudo aquilo para seus sonhos e os faria mais belos assim.

Sentiu-se inteira enfim. Mudou de expressão, contou-me segredos, falou-me vontades, senti sua dor e não parou de confiar-me seus desejos, livre, sorria mesmo com expressão de dor e por alguns momentos, entre um discurso e outro, calava, dizia-me sentir demais para explicar, não transformaria em palavras o que exprimia em seu rosto. Estava ofegante e não queria descanso, não queria acabar aquele sonho real, e pedia ajuda, pedia fôlego, pedia.

Recuperou as forças, abandonou todo o senso, esqueceu do mundo, deixou seus pudores, largou mão das regras, apertou-me firme contra seu peito com toda sua força, e gritou, incondicionalmente, o amor que sentia por mim. Jurou-me depois, sua vida, sua alma, seu amor.

Postou-se farta em meus braços. Dormiu.

Augusto Simões

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Moça que sonha



Já não lhe importa mais, teve o que queria. Deitada, respira brandamente num ir e vir de ar comovente, como quem teve um dia farto, deitou exausta e agora já descansou. Não sente mais as dores, não pensa nos problemas, apenas se deleita com os sonhos que serão esquecidos quando seus olhos voltarem a abrir. Encontra-se de banda, suas curvas se acentuam visto que, além da posição colaborar, seu corpo é deslumbrante. Não há sombras no escuro, ela suspira quando se move, é um esforço incomum girar na cama. Em sua orelha esquerda, um brinco que jamais sai dali tenta aparecer em meio à perfeição daquelas curvas, as de seu rosto. Sua boca não tem sede ou fome, mas aguça uma vontade como se pedisse naturalmente, sem movimentos. Carne macia, próxima àquela respiração quase que imperceptível agora, senão pelos movimentos de seus pulmões. Mais acima, os olhos que meditam, quietos, calmos, hora estáticos, outrora frenéticos, já se encontram em seu próprio mundo, em seus pensamentos íntimos e tão secretos que nem a ela, quando em consciência, se revelam. Não se movem os cachos, mas seu corpo respira inteiro. Aquecido, liso, disposto da maneira que se postou mais cedo. A cada inspiração seus seios se fartam coagidos pelo espaço que o pulmão ocupa até que voltam aos seus lugares quando o ar se vai. Seus braços movimentam-se após muito tempo, suas pernas dispostas uma acima da outra, agora relaxam e se esticam a esmo, inspira novamente como quem tem uma breve pausa no sonho, percebe uma ausência, estranha. Movimenta o braço direito até me encontrar e me puxa como faria com seu lençol. Sente-se aquecida e torna a dormir. Já não lhe importa mais o mundo, teve o que queria de mim.

Augusto Simões

sábado, 25 de outubro de 2008

Coito

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Veste a roupa que lhe dei e passeia pelo quarto. De certo, aprecia a vestimenta, trouxe algo sem folgas, pelo contrário, um ou dois números a menos, pressiona seu corpo, noto melhor suas curvas, mas não se incomoda, posto que já lhe é de hábito viver sob pressão, como se não bastasse as de praxe, as que lhe são postas goela abaixo, ainda se sufoca mais em vaidade. Não me acanho nos elogios, e mostro-lhe o quanto a admiro. Pesam-lhe as jóias nas orelhas. O colar, bem rente ao pescoço, atrapalha alguns movimentos enquanto reflete cada luz que se aproxima. Está radiante em seu vestido justo, novo, lhe apertando os quadris, mal lhe permite alguns movimentos. Ainda se enaltece em seus saltos, altos, com bicos finos, finos saltos altos onde ela flutua e desgasta suas pernas e sua postura. Admira a própria maquiagem, cobrindo seu rosto de branco, escurecendo os cílios, clareando a pele, escondendo as expressões, disfarçando o cansaço, pinta os lábios, colore seus tons, rosas, azuis, brancos, todos harmonicamente suaves. Eis que quando penso que acaba, torna à penteadeira e começa seu escultural penteado, dentre pentes e escovas, presilhas, adornos e tinturas se satisfaz. Então se enche de creme, se perfuma e me pergunta: “Onde vamos?” Calo, a conduzo até o restaurante, peço um prato breve e levo-a de volta ao nosso lar. Pergunta-me então: “Por que tão breve?” Respondo, enfim: “Pois estás vestida para o mundo, bela para os outros olhos, cheirosa para os outros perfumes. Agora quero-te especial para mim.” Curiosa, me pergunta: “Como?” Abro meu maior sorriso, a finto sem pudor e lhe falo em bom tom: “Despe-te e transpira.”
Augusto Simões

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Trecho do meu curta (Narrado)

Não, não sou um monstro, sou comum, assim como aqueles que me julgam. Não, repito, não sou um monstro. Neste mundo nos levam a crer que somos o que não somos, deslocam nossos pensamentos chamando-os de instinto e nos adestram, aos poucos, para controlar nossa natureza. Somos animais, sim, racionais, entretanto, os mesmo animais que habitavam estas terras desde os primórdios. Lapidando-nos, nos forçam a esquecer que nossa essência é simples, destruímos e passamos por cima de tudo o que nos é inconveniente para alcançar nosso conforto psicológico, físico, instintivo.

Não mesmo, não sou um monstro. Sou, assim como você, um animal racional, cercado de regras escritas por homens que não tinham a mínima noção de como o mundo seria nos dias atuais. E por que não escrever minhas próprias regras? Por que não seguir meus instintos? Por que não matar alguém? Quem sabe que isto lhe faria bem? O que há de tão importante numa vida humana? O medo das regras mesmo quando não se sabe de onde vieram torna atos que seriam naturais em atitudes bárbaras, arcaicas, mas ainda somos os mesmos homens, ainda não encontraram o ser humano ideal, ainda somos animais instintivos, doentes, sim, infectados por uma tal humanidade que não reconheço como um bem, eu a vejo como uma prisão.

Não, não sou um monstro, sou livre, agora sou livre.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Consolo

Vejo o rosto todo arquear, sucumbir, deformar-se aos poucos. Vagarosamente. É o orgulho, a vergonha, a covardia que o mantém firme ou parcialmente firme. E então o rosto se movimenta com a expressão. O pescoço se move, usualmente na diagonal e sempre para baixo. Esconde a parte que sente e evita os soluços. Resiste por mais algum tempo.

Com o indicador fixado na ponta do queixo ergo a face que tem vergonha e observo que suas narinas parecem lutar contra a expressão que este rosto quer expor. Deixo-o, o rosto, seguir à vontade. Suas sobrancelhas encolhem e, assim, enrugam toda a sua testa. Seus olhos parecem esmagados pelas pálpebras que se contraem. Se avermelham aos poucos. Agora já parecem mortos ali dentro, afogados em toda aquela água, deliberadamente infelizes. Vejo então a face feia, a face verdadeira. Vejo então o que a tristeza pode fazer com a face.

Então abraço-lhe, dou-lhe todo o consolo possível, digo-lhe tudo o que sinto, faço o possível para dar-lhe consolo. Até ver que as lágrimas secaram ao sopro de minhas palavras, a água que afogava os olhos limpou o vermelho, vazou pelo rosto e, salgada, temperou a degustação daquela amarga tristeza. Disse-lhe o quanto amo, falei tanto quanto pude, tudo o que sentia. E, nem pude notar o que havia acontecido. Aquele rosto, um pouco inchado, que chorava suas mazelas, que mostrava suas fraquezas, tomava forma outra vez. Afastou-se do meu ombro, vagarosamente, olhou-me sorridente no fundo dos olhos e soou palavras que diziam: “De que me valeria o mundo se não tivesse teu amor? Amo-te mais que à vida”. Beijou-me e é feliz ao meu lado.

Ideal Irreal

Manhã, o casal acorda com o rádio relógio. A mulher se demora na cama enquanto o homem (não aparece a cozinha) faz o café da manhã e serve na cama (hábito que aparenta ser diário). A mulher mostra um sorriso feliz e se alimenta com o marido. Levantam-se, vestem-se com vaidade. A mulher prende seus cabelos com um daqueles pauzinhos. E vão ao carro.

No carro, a câmera enquadra o rosto do homem (o motorista) e, enquanto abre o quadro abaixa e se fixa no corpo deste (entre o queixo e os joelhos).

- gostou do café, querida?

- sim, amor, como sempre. Estava perfeito. Te amo.

- e sempre estará. O maridão aqui faz tudo pra te agradar.

- eu sei querido, não é a toa que casei com o homem perfeito.

(sorrisos e carinhos)

- meu bem, segura aqui pra mim que não to gostando do meu cabelo assim hoje. Vou prender com o pitó.

- tudo bem, à noite você lembra de pegar no painel tá?

Chegam no trabalho da mulher.

- até mais tarde meu pitelzinho!

- até meu pão!

O homem vai até o seu trabalho. Desce do carro. A porta fecha.

Bem arrumado o homem vai até seu ambiente de trabalho. Chegando em sua mesa, levanta a vista. Aparece o relógio indicando 9:01. Pontualmente inicia seus trabalhos. O seu ramal toca. Vai até a sala da chefe com seu ar bem humorado e feliz. Recebe uma reclamação. A expressão de seu rosto tem os primeiros traços de raiva. Sente-se humilhado por não poder reagir. Volta para sua mesa. A bronca o leva a pensar em sua esposa num dia comum, em que a viu ser auxiliada por um rapaz quando passava em frente à padaria.


Lembra-se...

A mulher sai da padaria com várias compras e é ajudada por um rapaz. Desconhecido. Que leva as compras até o carro deles e vai embora.

De volta ao escritório...
O homem já sem o ânimo de mais cedo baixa a vista. Levanta a vista. O relógio marca 17:30. hora de largar. Volta ao carro.

Agora, no seu carro, podendo se exaltar, começa a ironizar e falar só enquanto se estressa com o trânsito (discretamente). Já vê-se que seu modo de passar as marchas e acelerar o carro não é o mesmo. O homem parece mais natural e interpreta a forma que tem que se comportar no trabalho com ironias.

- tudo bem chefe, admito que errei. Devo fazer o trabalho que me rendeu três dias de atenção novamente porque não ficou à sua altura. Acredito que também deva pedir desculpas por fazê-la perder tempo lendo tantas baboseiras (que, por ventura, são meu trabalho de TRÊS DIAS!)

Agora ele passa a agir mais naturalmente.

- essa rapariga! (Regionalismo) acha que é por estar num cargo acima do meu que toda opinião dela é mais válida que a minha. “A chefe é PHD” eles dizem. PHD porra nenhuma! Aquilo é uma vaca que se acha!

Chega ao trabalho de sua mulher.

A mulher saída porta do prédio onde trabalha e caminha até a calçada. O carro aparece nas fotos pela primeira vez. O carro pára, ela abre a porta do carro. Assim que abre, o som captado de dentro do carro volta enquanto ela se abaixa para entrar no carro.

A mulher não diz boa noite. Começa a falar do dia ruim e comentar sobre a vida alheia.

- você acredita que o menino do suporte a informática ta tendo um caso com a minha chefe. Vê se pode. Um menino que deve ter seus 23 com uma velha de 45. só pode ser por interesse mesmo. E a mulher ainda se exibe! Isso é por que é chefe! Senão, estaria preocupada com a tal “ética em ambiente de trabalho.

O som vai ficando mais distante, as palavras não são mais compreensíveis. Enquanto aquele ruído estranho circula no carro, as lembranças do seu trabalho e da padaria vêm à tona. O homem, estica o braço e pega o pauzinho que a mulher deixou no carro pela manhã. O carro pára. Suas mãos pressionam o objeto pontiagudo. A mulher pergunta.

- o que foi?

Escurece tudo e escuta-se um grito abafado. Volta ao corpo do homem que segurava o pauzinho. O pauzinho agora está envolto em sangue. O quadro abre e vemos o rosto do homem. Ofegante. Acabou de extravasar sua raiva. Escurece novamente. Volta ao rosto do homem. Vai ficando assustado. Percebe que acabou de matar alguém, matou sua mulher. Escurece outra vez. Quando o rosto volta a aparecer um sorriso de prazer se expõe em seu rosto apoiado em sua mão suja de sangue ainda com o objeto que matou sua mulher. Não sente culpa.

FIM

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Carta sem título





Ali, além dali, muito distante, ia eu ficando pequeno, pequerrucho, mínimo. Porque eras como a paisagem que por mais que se ande não se alcança. Eras a própria distancia, terreno inalcançável, fossa do mar. E eu, vivia aqui, a ouvir Chico Buarque e contemplar grandes passes do Rei do Futebol, ainda que não goste de futebol, via pela arte. Pude sentir, inúmeras vezes o calor de tuas mãos em meus cabelos antes de vê-la, huuum!

Mesmo que próxima e distante, bem ou mal foste mesmo meu colo quando havia ninguém. Minha tristeza era daquelas que te afoga em lágrimas ou faz perder-se dentro de si mesmo. E tentei, por várias vezes, disfarçar o meu falecimento sentimental, para não dizer minha morte interior, que, ó Deus! já vivia, eu, o encanto e a felicidade plena sem tu.

Na Veneza pernambucana, os canais impuros, as pontes, as paisagens. Nada mais era belo, nada mais era visto por mim. Mas sempre soube que chegar até você seria como subir para cima, repetir de novo, era como se todos os astros fossem unânimes em dizer: “Vai acontecer, é seu destino”.

E neste excelente estado, receoso, romântico, ridículo num raro momento, estaria, eu, pronto para senti-lo, o amor. Belo, nostálgico, indescritível chegaria a mim.

E eu disse: “Eu já sabia!”.

(Eu estudando figuras de linguagem. : P)

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Nosso

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Tava pensando aqui com meus botões: "Por que eu gosto tanto do teu beijo se eu já beijei uma infinidade de moças nessa minha vida desregrada?".
Não demorou muito para tirar a conclusão, ou melhor, as conclusões.
1- você não é mais uma;

2- você é muito mais que linda;

3- a gente se sente do mesmo jeito quando está junto;

Quinta conclusão, não menos importante- eu adoro estar perto de você mesmo quando tenho que ficar "de longe" e, quando nos beijamos, não só encostamos os lábios e trocamos as línguas, também derrubamos as barreiras, vamos contra regras (por agora), provamos e demonstramos o quanto nos gostamos. Nosso beijo não é só especial por saudades ou por carinhos, é especial por ser nosso.

Já falei que você me inspira?


(Próxima parte do conquista sai esta semana a outra, tô sem tempo de seguir a linha)

sábado, 20 de setembro de 2008

Abordagem II

Dias após o ocorrido fizeram-se breves as palavras: “hei, vamos conversar?”. E num sorriso largo ela se postou ao seu lado e deu ouvidos às suas novas palavras. Dizia ele:

“Tens estado em meu café pela manhã, no livro que tenho lido, nas minhas conversas, tens estado em meus pensamentos todos os dias. Provocaste o que em mim é mais belo. Algo além da paixão, algo que comove. Hoje, sou encantado pela tua beleza e quero saber se posso encantar-me por ti completamente. Será que posso pedir-te esta noite para conhecer-te melhor e descobrir se toda esta disfunção em meus atos e comportamentos relativos a tu são, de fato, dignos de existir?”

Ela consentiu a noite, mas teve de confessar-se: “Em minha vida há outro alguém por quem não sei se ainda sinto. E tenho tanto interesse em tu quanto dizes ter em mim. Sob tais declarações ainda insistes em sair comigo?”

Sem praguejar deu um largo sim e a convidou ao local onde foram.

Diante dos gestos, das conversas que tiveram por toda a noite, seria impraticável evitar um beijo. Eis que sucedeu-se o dito que multiplicou-se em vários outros somados aos carinhos e às doces e sonhadoras palavras dele. Como era esperado, mas não tido como certo, o rapaz rendeu-se aos encantos da moça que, por sua vez, fez o mesmo. Eram agora amantes sem sombra de dúvidas.

Não esqueceram do outro alguém que a esta hora já estava a perder o título. E este não imaginara nada. Apenas vivia distante e aproximava-se quando era possível. Era o único empecilho que impedia o romance dos dois. Mas, a saudade é danada, e tornou-se personagem principal na evolução dos sentimentos. Deu-lhes mais vontade à medida em que se viam e não podiam aproximar-se. Começavam a deixar, inconscientemente, que o impedimento aumentasse o desejo e as emoções. Nada mais sedutor do que o amor proibido.

Dia após dia se viam e se olhavam e se mantinham distantes. Agora sabiam que partilhavam os mesmos pensamentos e sentimentos, tudo era uma questão de tempo. Enquanto ela procurava coragem para deixar o outro ele entendia os motivos da aflição e esperava pacientemente tentando ajudá-la e a conquistando mais e mais apenas através de palavras. Sem toques, sem flores. Poucos poemas e vários olhares, mas, principalmente com as palavras.


Continua

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Abordagem I

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Abriu a porta, postou-se naquela cadeira, no meio dos demais, e se colocou a observar o que passara. Em menos de dez segundos já se encontrava tão distante dali quanto poderia. Na verdade, não tão longe. Fora ali onde tudo sucedera. Colocava-se afastado em sentido de tempo, de dias atrás. E ali repassava tudo o que vivera naqueles dias passados, próximo dali, tão próximo. E, será que voltaria?

Ela, apressada, corria para não se atrasar. Recorrentemente pensava se fora ela errada ou se estaria errada em pensar, olhar ou falar da forma que falaria. Não, haveria a possibilidade de não vê-lo. Mas pensava se o visse. Subiu as escadas, postou-se à porta e olhou pela brecha, antes que este pudesse vê-la. O viu e titubeou em seus pensamentos.

Neste momento ele já a via. E lhe fraquejavam as pernas, forçavam as batidas no peito e tremiam-lhe as mãos. Disfarçava fingindo estar com frio. Ela chegou, e ele a olhou nos olhos sem saber bem como reagir. Via-se tímido, sem jeito, desconcertado. Por sorte a cena se passava rapidamente. Contudo, o momento de levantar-se de ambos seria o mesmo, e ali, não haveria como disfarçar as pernas, as mãos, o peito, ou correria o risco de se expor ao ridículo e usual que é o declarar-se brevemente.

Levantou-se de sua cadeira e seguiu em direção à porta quando foi abordada. Falava-lhe ele. Em tom breve e um pouco desconcertado o que lhe vinha no pensamento. Fazia-se de desentendida e dava-lhe toda a atenção. Respondeu as perguntas, riu das piadas e mostrou-se ciente de comentário que só pôde ser entendido pelos dois. Mesmo que dito diante daquela multidão. Ele não disse tudo o que queria pois, ali, não poderia e disse apenas que ainda tinha o que lhe falar e que o faria em outra ocasião. Ela mostrou-se disposta e aguardou o convite.

Continua

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Apelo

Se não sabes onde vais meu caminho pode ser [tanto] certo quanto incorreto nessa sua trilha. Fazes-te amarga e triste e, tão bem quanto mal, sabes que te sou parte que posso ser quando autorizas.

Não me vás tão rapidamente, nem te vens quando te convém, posto que cada encontro contigo torna-se sinônimo de esperança e cada decepção pende por se tornar um baque dolorido. És figura que imagino tão perfeita em meu viver e de torna-se tão triste no horizonte. Mal sabes o quanto dói só ver-te assim, longe de mim.

Imagem do meu sol que raia o dia perfeito onde nem ressaca mais deprimente pode apagar um sorriso extasiaste num dia chuvoso e cinza onde o sol insiste em estar lá. Não ignora quem pode ser único em tua vida. Já te fiz parcialmente feliz pois me deste pouco tempo. Posso fazer-te tão mais, ou plenamente, contente que nem imaginas. Não achai que posso ser tão modesto, pois, se não te digo do que sou capaz, como podes desconfiar se tuas próprias convicções julgam-me incapaz? Sou capaz tanto quanto posso provar-te. Dá-me chance moça! Ou jamais saberás que rumo tomaria tua vida se escolhesse a mim.

Dá-me chance moça.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Ato: Amar.

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Imensamente, amo-te, amada amante. E, mesmo morto ou mambembe, torno-me teu, tamanha amante. Trato-te tão ternamente que te trago tamanhas e trilhões de tralhas tocantes, tremenda amante. Também te babo, bobo, abobalhado. Bicho abobalhado! Se bem que, linda como és, logo se ligam das líricas às loucas palavras. Se bem que sabe-se bem que se não fosse tão certa a certeza de saber-te, sóbrio ou sórdido, só minha, talvez que saísse eu, por aí, paparicando poucas palermas sem assumir que era errado e ruim rastejar e rimar romances por rotineiras sabendo que raridade só é sincera quando se ama você amada amante.

domingo, 31 de agosto de 2008

Saudades

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Sem anseios, andou só e refletiu. Passo após passo sentindo nada. Nem vento, nem brisa, nem ar. Calor, frio. Aquilo tudo era lembrança. Não sentia mais nada. Vago. Deitou-se num banco, olhou para o céu, não viu claridade, nem escuro, só via lembranças. Tanto fariam seus olhos abertos ou fechados. Não sentia a temperatura do banco onde comportava seu corpo. Nada ouvia. Só ouvia lembranças.

Achava que eram sorrisos, histórias. Achava que ainda via aquela imagem toda. Era tudo ali, naquele mesmo lugar, ou próximo dali. E pensava ter tudo outra vez. Os breves momentos. Os suspiros, os olhares. Sentia, na verdade, saudades, mas não confessaria nem para si mesmo. E vivia aquele momento. Pensando que vivia. Sonhando com o passado, mergulhado nas lembranças. Só. Na verdade não se sentia só. Sentia-se tão bem acompanhado quanto poderia em toda sua vida. Imaginava estar perfeito e assim mesmo, consigo próprio, mesmo que mergulhado em seu imaginário, por hora tão real, debruçado em tanta felicidade, sentia-se, estranhamente, triste.

Olhava ao seu redor e aproveitava o momento. Registrava o cenário no qual se veria novamente, através de lembranças, e voltava sua atenção para o momento. Para os toques e suspiros que já não eram mais reais. Quando, vagarosamente, embaçava sua visão como se o momento se fosse. Ao passo que todo o verdadeiro odor, o estridente barulho, o vento forte passavam a substituir os sorrisos, os abraços, as conversas, o perfume se ia e a verdade voltava à tona. Uma pergunta com a resposta já estampada no peito lhe vinha às voltas. “Qual a sensação de saber que nunca mais terei aquele beijo?”

Levantou-se, não sorriu, caminhou e se foi.


(Influenciado pelo estilo da predicativa)

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Conquista IV (O Fim)

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Com grande decisão a ser tomada em pequeno espaço de tempo, o coitado arriscava em insistir. Relutante e receosa, a menina aceitava as novas idéias apresentadas pelo pobre rapaz. Este também sofrido como agora também era sabido. E, se fez um dito acordo naquela hora para que se houvesse tempo de se entenderem melhor. Ela avaliaria a situação mais relaxada, ciente de todos os fatos e das intenções do dito rapaz. Ele, conhecendo melhor a história e até ganhando tempo, procuraria saber se deveria prosseguir com tal relação.

Passavam-se alguns dias e o rapaz matutava sobre a menina, procurando dar-lhe espaço o suficiente para não sufocar e não indo tão longe para não ser esquecido. Era um caminho sinuoso a ser percorrido e os pensamentos deste passavam a arquitetar certas estratégias para descobrir se valeria à pena ou não. As dúvidas tornaram-se freqüentes e as soluções, várias, foram surgindo em suas reflexões.

Resolvia então parte da charada. Como saber se lhe valia todo o esforço garota essa cujo convívio e o conhecimento era tão pouco? Pensava em si no lugar dela e em seu próprio lugar ao mesmo tempo. O que o faria desistir como sendo ele? E o que a faria incapaz de merecer aquela dedicação ofertada de graça?

Aos poucos as respostas iam chegando. Este – o rapaz – não deixaria bobagens afetarem o que poderia vir a ser uma futura esperança. Não era fácil se apegar, mas não deixaria algo que acreditasse ser bom findar por qualquer bobagem, para ele, dar as costas por ato menor, de pouca importância, seria confessar o descaso, exibir indiferença. Acreditava que deveria, por uma só vez, testar o outro lado da história. Se as palavras não funcionavam, o encontros eram escassos, as expressões só revelavam aparências, haveria ele de usar princípios básicos da física para achar suas respostas. “Cada ação corresponde a uma reação”. “Causa e conseqüência”. Ela poderia fugir das palavras, das perguntas e até dele, mas, jamais de sua natureza.

Então, ele achou a solução. Haveria de, em gesto breve e suave, de forma fácil de corrigir, cometer uma garfe, um errinho besta, algo que a afetasse no fundo, mas não machucasse. O fez então. Como não esperava, a reação foi além do necessário, exagerada, frustrante. Não haveria de ser naquela união que encontraria, qualquer um dos dois felicidade qualquer. Ela provara que não se deixava, somente aproveitava breves momentos como para sentir-se bem por algum tempo. Ele a fazia rir, aprender. A desafiava e tinha boas respostas e argumentos para conversas.

Sim, sim, era comprovadamente o final daquela história. Ela se foi para um lado e ele voltou a vagar no mundo. Ela no mundo dela, ele no dele. Sem mágoas, sem mais tristezas, só mesmo a certeza de saberem-se diferentes demais ou impossíveis um para o outro.

FIM
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segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Reflexões Sobre o Ventre

Por hora me pergunto: “Seria o ventre chamado de ventre propositalmente?” Assim, para poetas sempre o pensarem como quente. Ou, de tão quente que é, por hábito, o ventre, tornou-se conveniente chama-lo assim: ventre?

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Bela vida vazia

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Sorria alegremente.

Não tens mais peso nas costas ou a quem dar atenção
Não tens sequer responsabilidades com pessoa qualquer
Não tens nada que te prenda ou te controle, individuo

Sorria felizmente

Não há motivos para a tal tristeza nesse momento
Quão leve pode ser a liberdade de só ter nada
Sem razões, sentimentos, lucidez, sem virtudes

Sorria tristemente

Pois não há tão só alma a vagar nesse mundo
És fruto absurdo do resultado de si mesmo
Mais triste, só e isolado que podes agüentar

Sorria amargamente

Pois ninguém nesse mundo foi feito pra te entender
E suas falhas levantarão vozes, diferentemente de seus feitos
E não poderás errar, pobre criatura infame

Agora chora alegremente se conseguir.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Conquista III

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Mais uma semana passava e, encantado, o rapaz tornava a conseguir um novo encontro. Foi, ele, com uma hora de antecedência e a esperou na rua onde haviam marcado o primeiro encontro (salvo que os outros se deram ao acaso).

Um lugar intrigante aquela rua. Composta de velhas construções, algumas reformadas, outras, se não caindo aos pedaços, próximas disso. Além do aspecto simplório e envelhecido. Um lugar, tal como ela, difícil de interpretar à primeira vista.

Leu seu livro por uma hora e não sentiu frios na barriga ou expectativa. A moça lhe parecia tão distante algumas horas, mas, o deixava confortável. Não havia ali excessos. Somente o necessário. Quando chegada a hora do encontro, fechou seu livro, guardou-o em sua mochila, passou a esperá-la. Pensava em como aborda-la de forma correta. Menina sensível e já declaradamente triste haveria de ser abordada com todo tato possível.

Dada a hora, dela, ela chega. Um breve sorriso de lado, um caminhar tranqüilo, senta a mesa, pede uma cerveja e exige a marca. Finalmente o cumprimenta. Abordados os assuntos iniciais, trocam de mesa – para se afastarem do som estridente do bar – e tornam a conversar.

Agora o diálogo toma outro rumo e as revelações não tardam a serem feitas. Seus traumas, suas mazelas, suas vontades e parte de suas vidas vão aflorando e se apresentando naturalmente.

- Devo falar do meu passado recente. História triste, confusa e que ainda me toca muito.

Não haveria, o rapaz, visto tantas palavras e tantas expressões em sua face quanto via durante aquelas palavras. E não parou por aí.

- Fui descrente no amor por longa data e a pouco resolvi me arriscar nesse mar de contradições. Por hora, acreditei que poderia e sofri. Vendo-me já preparada para uma nova decepção, fui forte e dura o quanto pude, até que amoleci mais uma vez e, outra vez, o amor me derrubou. Ainda encontro-me triste, ferida, magoada e, pior, apaixonada.

As revelações talvez não fossem tão surpreendentes para o pobre rapaz que escutava atento cada palavra enquanto moldava discursos para confortá-la e até conquistá-la. Seu passado também não havia sido fácil e, descobriu ele, que no mesmo período teve decepções semelhantes às ouvidas por ele naquele momento. Eram os momento finais do discurso da moça apaixonada e seu tempo de elaborar algo iria se findando. Era a hora de escolher entre continuar uma batalha ou declarar a donzela perdida. O que fazer?

Continua...

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Conquista II

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Deixa ele ir pobre moça desiludida. A mágoa é coisa triste e ruim, mas, quando se deixa exposta ao tempo, pode inflamar a ferida. Há remédios que curam essas dores. E que dor não é curável?

A tristeza isolava a moça dos olhos inchados e bem secos. Não existem mais lágrimas, mas a dor perdura. Então deixa que esta dure, deixa a dor comover e ensinar. Mas não deixa que esta tire mais do que já tirou.

E a moça seguiu se arriscando. Pouco a pouco. Uma ou duas vezes por mês deixara o pobre rapaz aproximar-se. Este, não economizava em paciência, era uma dedicação quase cega e respeitosa. E, a cada vez que se viam, naturalmente, crescia a intimidade, e o apego. Mesmo que nesses poucos dias em que horas tornavam-se breves momentos as conversas, escassas e bem curtas, revelavam aos dois o que os fazia se deixarem, ela sem deixa-lo de vez e ele sem desistir daquilo que ele nem sonhava ser amor.

O rapaz, sempre que achava que poderia fraquejar, pedia, brevemente, um estimulo de moça tão discreta e de tão poucas palavras. E ela, sempre que requisitada, curta, breve, mas envolvente, usava seu olhar para dar dimensões prolixas às suas poucas palavra. E assim, renovado, seguia o rapaz, a esperar, mais uma vez, o tempo que fosse necessário. Algo lhe antecipava um sentimento nobre e vivências inesquecíveis.

Continua...

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Conquista I

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Mesmo com toda salinidade deste mar de amarguras ainda comportava doçura a menina ferida. Pobre donzela cercada de amargura e tristeza, isolava-se em sua vida, em seu quarto em seu eu. “Deixa o mundo de lado, por agora, não preciso dele, tanto assim.”. Assim chorava a menina que não negava um sorriso quando ele se chegava. Mas chegara tarde demais, por hora, que agora a menina não queria mais ninguém. Ainda assim, não negava aqueles sorrisos que o impulsionavam.

E, passo a passo, foi-se chegando, ele, do seu jeito, como o terceiro que chegou do nada. E quanto mais ela se afastava ele mais insistia, sutilmente, em se aproximar. E sua insistência não incomodava. Sim, ela sentia-se melhor. Como provando para si que era melhor do que se sentia. E, talvez por isso, não conseguia dar-lhe um não. Não conseguia nega-lo quando este se aproximava.

Continua...

quinta-feira, 31 de julho de 2008

A Visão e a Arte

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Boa parte das pessoas interpretam as formas artísticas através dos seus olhares, dos seus mundo. Culturas, histórias, pessoas, entre várias influências tornam uma pintura, foto ou poema, vários. O que isto quer dizer? Que um poema pode ser, ao mesmo tempo, romântico para um e nostálgico para outro assim como um desenho, uma melodia, ou qualquer outra forma de arte.

Acredito que muitos se importam em interpretar a arte de outras formas. Lêem sobre técnicas, até tentam praticá-las, mesmo sem muito talento, para reconhecer e entender melhor como a obra, seja ela qual for, foi produzida. Estes preferem apreciar a arte por um aspecto mais técnico. Pelas inovações encontradas pelo artista. Sentem-se internos ao assunto.

Há ainda o terceiro grupo, meu favorito. Formado por aqueles que procuram primeiro entender o que a obra lhe passa. E, pouco a pouco, vão se deixando levar por ela, tentando imaginar ou entender o que o artista pensava naquele momento. O que o fez sair da cama, parar sua refeição, desligar o telefone, sair de sua casa, de seu país para buscar aquelas cores, aquelas palavras, aquelas imagens. Estes seriam, para mim, os líricos. Pois arte, para estes, é a busca de técnicas, paisagens, palavras e até gestos que consigam demonstrar sentimentos objetivamente. E, só através desta, podemos tocar nos sentimentos.

Ladrão de Galinhas

Há uma falta de postura e indescência nos âmbitos onde corre maior parte do meu dinheiro, o que deixa qualquer ser humano “tranqüilo” quando consciente. E vejo, ainda, uma ironia trágica em meio aos fatos: “Aqueles que ‘ditam’ as regras, as minhas obrigações e direitos, são os mesmos que têm sido acusados de roubar meu dinheiro. Como exemplar resultado, uma punição com o fim de um mandato por determinado tempo.”.

Agora imagina um ladrão, daqueles mesmo, os de galinha. Um belo dia é pego roubando as galinhas e levado a julgamento. No julgamento as provas indicam que o acusado é culpado. Sujo, com penas pela camisa, marcas das bicadas da galinha que tentava fugir de seu sequestrador o homem nega tudo e diz nem saber da existencia de galinhas naquele terreno. Por fim, o juri popular condena o homem. Está definido e provado! Culpado! Pena: Renuncia e abandono das funções de ladrão. Sem direito às regalias. E, só após 8 anos, o dito ladrão pode voltar a roubar as galinhas. Enquanto isso, este deve desfrutar de plena liberdade para outras atividades.

Quem sabe assim, no Brasil, poderiamos dizer que a justiça é cega. Afinal, num pais de malandragem, de influência, onde o dinheiro move tudo, já que não se mexe com o rico vamos ver como mexer com os pobres. Se não dá pra rachar o dinheiro que se concentra na mão de poucos, vamos igualar, pelo menos, alguns direitos.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Até mais.

Deixa estes profundos olhos secos de emoção e que tanto me acobertaram de carinho. Ou deveria eu estar carente e, assim, qualquer demonstração de afetou tornou-me observador mais sensível da humanidade.

Era sim um olhar seco, que me acalentava e aceitava minhas palavras e meus afetos. Durante três dias o vi. No primeiro parecia meio embaçado, era bonito assim mesmo, mesmo que distorcido, mesmo que distante e não bem, lembrado, era belo. Até que na segunda vista tudo já era mais claro. Os olhos transpirando sorriso e num olhar fundo nos meus mostrou-me que me percebia. Sim, eu já pensava naqueles olhos bem antes deles me reconhecerem a primeira vez. Ou era o que imaginava. Mas fui visto e notado assim como reciprocamente cumprimentei. Breves e verdadeiros sorrisos, breves palavras, grande afeição.

No terceiro já não pude evitar. Aproximei-me tanto que os olhos se fecharam e já não pude vê-los por instantes. Mas, intrigantemente, os sentia melhor que nunca. Aquele olhar tornou-se carinho, tornou-se pele e afeto, tornou-se beijo e abraço. Aquele carinho tornou-se uma noite e um amanhecer do dia onde não pudemos ver o sol. Só poderíamos ver pelo tato, pelo cheiro e pela claridade que atravessava nossas pálpebras. Seus braços foram se afastando aos poucos. Mas seus olhos, mesmo quando te ias, ainda me traziam aquele olhar. Foram os últimos a se afastar.

domingo, 27 de julho de 2008

Ponto e virgula

, virgula. Ponto

segunda-feira, 14 de julho de 2008

O amor é cego

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Deixo a mim mesma assim como me encontro. Meu abandono tem razões claras, lógicas, humanas, sentimentais e até fáceis de compreender. Amo. Tanto quanto posso e com a força que posso amar. Com toda a intensidade da palavra, cada sílaba, cada letra, cada gesto que a acompanha. Amo. Caso houvesse de morrer pelo amor, jamais hesitaria. E sim, é claro, gosto do que sinto.
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Porque me deixo? E porque haveria eu de ficar comigo mesma? Não quero viver só dentro de mim cercada do que penso e do que gosto. De que me vale o gosto se não tiver ao lado quem gosto. Pois mais me favorece o abandono de mim mesma a manter esta essência que, por hora, em tentativa anterior, também me isolou.
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Enfim encontro-me. Nele? Mesmo que não seja perfeito – e quem é? – neste. Só quem me dá a certeza de ser-me sempre merece ser meu fim. Sim, meu porto seguro, meu destino, onde descanso, de onde não preciso sair nunca. Sim, minha paz em meio a todas nossas guerras. Dizem que deixo-me, não sou mais quem sou. Mas prefiro encontrar-me nele e ele ser e então, assim, evito algumas dessas guerras, afinal, não passa de um conflito interno, pessoal, e estes sempre resolvemos, não podemos fugir. Afinal, sou-o. Tenho medo de estar só.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Descaso?

Tudo bem, tudo bem. Vou vivendo só. Tão somente só que vivo cercado dos meus. Sou eles e eles me são. Sou todos os que me amam assim como eles. Estou só com os meus. Só.

Bem relativo não?

Passo a passo, abraço a abraço me aproximando de quem tenho que me aproximar. Cada parte de mim que passo a conhecer é uma ponte para conhecer as outras partes de mim. Os outros meus. Meus amigos, meus amores, eu mesmo neles todos. Sou fruto dos que me cercam e sou, também, o que me cerca. Sou mesmo é tudo. Só não conheço , ainda, tudo o que sou.

Relativo não?

Sem pressa, sem aperreio. Sou a calma em meio à toda agonia que sou. Sou a calma nessa loucura que me cerca. E esta, a loucura, é só parte de mim. Como criticar ou achar impossível viver com a loucura se esta, a loucura, é parte essencial da minha calma. É através dela que entendo minha paz. Sou a loucura do mundo e me cerco de calma mesmo sendo insano em minha calma.

Absurdo?

Não, não luto com o mundo. Não sou dado aos conflitos pessoais. Procuro me entender. Procuro entender o mundo que me cerca. Este mundo é meu, também. Este mundo é nosso. Tudo isso é parte essencial de mim. Sou tudo. Por isso este descaso com isso, com tudo, pois sei que, sendo parte de mim, tudo, não demora tanto, cedo ou tarde eu entendo.

Estranho?

É, é sim. É que prefiro ser parte e entender no lugar de só criticar e não procurar soluções para um equilíbrio.

Desencontrado?

Espera, espera. Acho que esta na hora de pensar mais no mundo e não só em você ou no seu mundo. Afinal, você também é o mundo que te cerca.

E o tempo?

Esquece, esquece. Este não existe mesmo.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Sr.

Sr. Coragem
É quem corre do certo atrás do duvidoso, larga tudo pelo completo nada, deixa passar porque foi bom o bastante pra se achar melhor.

Sr. Covarde
É quem corre do certo atrás do duvidoso, larga tudo pelo completo nada, deixa passar porque foi bom o bastante pra se achar melhor.

Sr. Coragem
É o que nega tudo pra sofrer depois, mas é forte pra fingir que superou e ainda dizer que está certo, e não volta atrás.

Sr. Covarde
É o que nega tudo pra sofrer depois, mas é forte pra fingir que superou e ainda dizer que está certo, e não volta atrás.

Sr. Coragem
É o que faz um mundo perfeito e sai dele e ainda deixa um rombo tão grande que faz tudo que ele construiu virar pó, e se diz consciente.

Sr. Covarde
É o que faz um mundo perfeito e sai dele e ainda deixa um rombo tão grande que faz tudo que ele construiu virar pó, e se diz consciente.

Mentira
É falar que tudo pode estar bem melhor.

Verdade
É falar que tudo pode estar bem melhor.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Só Melancolia Moribunda Meu Amor

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Não me ame. Não sou amável, não sou amado. Sem amor. Sem amabilidades. Não amo. Não gosto de amar. Não sei o que é o amor. Não sou amante. Não sou quem ama. Mas o amor me ama. E amar não é de mim. Não amo. Não sou amável e o amor me ama. Ama como se nem sei do amor? Ama-me assim mesmo e eu nem amo o amor. Não me ame. Sem amabilidades, sem mimos, sem mais. Só não ame. Amar mata. Amar quase me mata. Amor é morte e morte é o que não se vê no amor. Amei. Não amo mais. Sem mais amor. Sem mais a morte. Sou mais minha melancolia moribunda e esmigalhada de memórias de amor. Amor? Na memória é o bastante. Não me ame. Não sou amável. Já quase morri pelo amor. Não amo mais. Não me ame.

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segunda-feira, 19 de maio de 2008

Anuncío um amor falido.

Data de validade anunciada desde antes da aquisição do produto. Aceitas as condições, negócio fechado. Faixada sempre aparente de beleza e a certeza mantendo o "status cue" do acordo. Nada para se reclamar, então aproveitemos o produto.

Dentre as inúmeras vantagens podemos citar as seguintes: não há perigo (diz o contrato) de envolvimento, além do necessário, é claro, para se manter numa relação a dois; poesias, elogios, assim como felicidades e afagos não precisam ser contidos, pois, sabendo a data do término, nenhuma ilusão é alimentada, só o agora é aproveitado até que se acabe o prazo; Não há cobranças já que os dias são contados, assim, ambas as partes tornam-se, por assim dizer, felizes por não estarem sós nos momentos em que podem estar juntos; além das inúmeras demonstrações recíprocas de paixão.

Os defeitos que podem ser apresentados no produto tratam de aspectos inteiramente ligados às quebras contratuais. O que pode ser esclarecido pelo fato de que todas as peças do produto são puramente humanas e repletas de sentimentos além de, naturalmente cobertas de falhas. Eis os defeitos mais prováveis: envolvimento acidental de uma ou ambas as partes, trazendo assim consequências devastadoras; sintomas semelhantes aos de um amor, mais perigoso ainda; dúvidas quanto à veracidade (veracidade do produto ou do sentimento); explosão de confusões e sentimentos inesperados e não previstos no contrato.

Declaração de um usuário:

"Tem efeitos colaterais! Por algum tempo achei que seria tudo perfeito e quando notei, estava completamente envolvido, isso porque ela também achava estar, e eu achei que estava, e, por fim, perdi, ela perdeu, e eu não sei como foi parar aí. Era pra ter acabado antes, ou depois, mas bem, tinha um prazo!"


Por fim, durante algum tempo ainda chegarão comentários como: "Vocês formavam um belo casal", "Vocês eram lindos juntos", "Porque acabou?". Não se importe. Garantimos a qualidade do nosso produto. Uma boa frase de efeito para esse anúncio?

"Seus amigos só serão elogios!"

quinta-feira, 8 de maio de 2008

sem tempo

tô arrumando uns curtas.. depois eu posto...

sem tempo

tô arrumando uns curtas.. depois eu posto...

sábado, 26 de abril de 2008

A carta

Jamais pude expressar por completo o que senti. Minhas palavras não se fizeram na hora ideal e meus gestos não surtiram efeito ou algo próximo a isso. Sim, foi lindo e eterno enquanto durou e, enquanto acabava, meu penar também não teve fim. Fiz promessas, eu sei, e, com toda a verdade que admitia nelas, não foram o suficientes. Sinto ainda mais por não teres sentido amor quando este foi mais presente em tua vida. Dei o que pude e não pude enquanto não te importavas e, assim mesmo, não viste o que tinhas. Se o amor cega como dizem, creio que este não te permitiu enxergar nem a ele mesmo. Sempre soube o que senti e jamais neguei. Tentei te mostrar de todas as formas que pude. Mas nunca tive sucesso. E quando viste, já era tarde demais, e meu amor já havia se tornado um sofrer que já não caberia mais em mim.

Deixo um adeus ao amor, as saudades do nosso tempo que foi só nosso e uma tristeza de não poder te mostrar nem metade do que eu sentia, pois que quando tentei, já não vias mais nada além do teu nariz.

Jamais serás esquecida enquanto eu viver.



Adeus querida amiga que tanto me fez bem enquanto éramos amigos, a quem dei meu ombro pra chorar quando precisou e por quem fiz tudo o que jamais faria por alguém. Nosso amor morreu em meu coração e nós não existimos mais.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Monólogo sem tempo

Agora é hora e já não é mais. Agora já foi e nunca mais será. O que passou, passou. O que é ainda é. O que será, será.

“Não há tempo”; “Quanto mais corro menos tempo me sobra”; “As horas passaram que nem percebi”; “O tempo vive a me engolir”; “Como o dia passou Rápido”; “Como o mês passou rápido”; “Como o ano passou devagar”; “Ao seu lado não há tempo”; “Temos todo tempo do mundo”; “Dê tempo ao tempo”.

“O tempo não pára!!!”

Não encontro meu tempo e vivo sem tempo. Os dias, as horas, minutos. Perco a noção do tempo e não deixo de senti-lo depois. Onde vive meu tempo? Qual é o meu tempo? Dentre perdas de tempo e tempo gasto para o que quer que seja. E o tempo vai levando minha vida e dando minha vida. E o tempo? Se importa? Não. Este só passa e nos leva, nos engole, assim como Cronos comia seus filhos. Devora-nos e nos dá vida. O tempo traz e leva. Dá e tira.

Que horas são?

Por quê? Pois não sei por que.

Que horas são?

É hora de jantar, de almoçar, de trabalhar, de se divertir. Porque? Não sei!

Que horas são?

Correr, correr. Não há mais tempo pra nada. Só nos dão tempo quando nos aposentamos. Quando já não somos tão capazes de aproveitar o tempo que nos é dado. Por fim, temos tempo e não disposição e nos sobra tempo depois que nos viciamos em trabalho e em cotidianos. E nesse tempo todo que nos sobra tempo? O que fazer? Não tive tempo quando podia e agora não posso e me sobra tempo. Será que perdi muito tempo em vida? Será que controlei bem o tempo da minha vida? Ou o tempo me levou a vida e agora só me resta o tempo?

Que horas são?

Desculpe, estou atrasado. Tenho que ir.


[Vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=oDmwCQS62bg]

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Reagir

Reagir. Exercer reação; opor a uma ação outra que lhe é contrária; opor-se; lutar; resistir. Andar quando se está, a muito, parado(a); respirar quando sufocado(a); voltar a gostar depois de muito magoado(a). É preciso voltar e agir.

A reação se dá quando o desânimo vence a vontade e o esforço pela persistência frustrada. Erros nos levam a desistir. Mas, cedo ou tarde, encontra-se a necessidade de reagir. Ou mesmo a súbita sensação de se estar, novamente, repentinamente ou até instintivamente capaz de voltar e conseguir.

Seguir. Estrategicamente parar. E voltar a andar. Parar, pensar, achar a hora certa e o momento. Seguir novamente. Reagir.

Eu Fragmento

Eu, agora, só parte de mim, pois, visto eu como parte do todo, sou apenas fragmento e não só eu completo. Assim mesmo, como fragmento, sou o todo de mim, razão conhecida por mim mesmo e conhecedora, assim, de parte do todo. Humilde e pequena parte do todo. Mas, grande em mim, mesmo que ignorante de mim mesmo. Sou completa parte do todo e, pra mim, parte mais importante do todo. Pois meu todo existe por ser eu parte dele. E o todo sem mim, pra mim, não existe.

terça-feira, 15 de abril de 2008

O Nobre e o Pobre

Nobre eu, sentando em restaurantes, comprando caro.
Olha lá, além dos vidros tem outro mundo.
Eles pedem, comem lixo, sujam-se e estragam-se.
Não sabem de mim e sei deles.
Olha lá, eles podem sorrir, estão bem. Felizes.
Olha eu aqui. Nobre e morto de medo.
Bem se sabe, eles não têm o que perder além da vida.
E eu? Nobre. tenho tanto a perder.
Vivem bem a vida pois é o que eles têm.
Eu tenho dinheiro e responsabilidades.
Eles têm a vida.
Um me olha nos olhos e vejo nele vida.
Em mim, ele só vê dinheiro e a oportunidade que sou de ter uma refeição melhor no dia.
Vejo nele uma vida sofrida e, ainda assim, sorriso em seus olhos.
Em mim, só vejo meus bens e minha vida mesquinha.
E ele vê o seu almoço um pouco melhor.
Dou-lhe duas cédulas.
Ele me dá um sorriso grato e contente pois seu almoço será dobrado hoje.
Eu vou comer o de sempre, sempre caro e sempre o de sempre.
Ele contará uma história feliz.
Eu, mais uma história.
Ele vai se juntar aos seus.
Eu, volto pra casa e trabalho.
Assim ele vai vivendo.
E eu? Eu vou morrendo e deixo a herança.

Em Construção

Dadas as circunstancias, devo definir que não é aconselhável ou possível envolvimentos ou semelhantes formas de relação. Deixo claro que meus motivos são íntimos e não devem, por hora, serem revelados. O que acontece é que, em minha atual conjuntura, devo recolher-me em minhas particularidades, onde tenho conhecido lições partidas de mim (acrescento, por experiência, mesmo que nova, que estas são de grande relevância), fazendo assim com que não me seja válida qualquer relação que possa prejudicar este momento.

Ainda devo desculpar-me, pois, por fatidicamente ser uma fase nova, portanto desconhecida, posso cometer erros que servirão, com toda certeza, de lição numa nova necessidade de voltar a mim. Isolo-me por acreditar que qualquer contato além do superficial possa vir com sério risco de mágoa ou com a possibilidade de uma má interpretação onde eu estaria usando alguém apenas para suprir necessidades e, sem intenção, alimentando certas idéias errôneas.

Passado este momento, serei novidade. E o novo, como de costume, é desconhecido, por assim dizer, imprevisível. Meus passos após serão futuro e só no presente poderei dizer quem sou. No momento sou apenas olhos e boca, desliguei um pouco meus ouvidos.

Por fim, sou mudança em mim, sou reflexão, sou o todo em mim. Até a hora de voltar.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Bom Fim

E se o amor não vingasse? E se sumisse o amor? E fosse aonde fosse, ele se escondesse? Onde haveria de ir o amor? Será que entre outros ou sumiria de vez? Partido, o amor se soltaria no mundo em pedaços e sumiria daqui. O amor evaporaria e se iria aos ventos, como um vírus, assim seria o amor. Não seria mais nosso. O amor seria daquele que o respirasse. E nosso adeus ao amor seria o fim de nós. O início de outros. Então, só assim, não seria ruim o fim do nosso amor.

domingo, 30 de março de 2008

Não sou poeta

Não sou poeta. Não escrevo com métrica, rimas, não escrevo com beleza. Mas gosto de escrever. Gosto de falar do que sinto e fingir que pode haver razão na emoção. Contraditório? Talvez. Ainda assim gosto de pensar que existe. Ainda assim não sou poeta, não escrevo beleza. Escrevo o que sinto, não o que olho. Não descrevo, escrevo.

Prefiro mostrar os cenários como me vêm. Descrever algo que qualquer um pode ver. Vou além. Mostro o que significa pra mim. Vejo a sombra e não a árvore, o frescor e não a água, a leveza e não o vôo do pássaro. Não sou poeta. Não escrevo versos. Os parágrafos são, por hábito, mais extensos, mais livres.

Por hora, gosto de dizer-me poeta. Assim posso desfrutar da liberdade de alguns erros. Como fazem os poetas. Ainda rimo algumas frases, mas, nada que possa ser chamado de poema, poesia, verso, prosa. Tudo isso me prenderia, limitaria meus pensamentos, mudaria o sentido do que quero dizer. Já disse, não sou poeta. Sou livre.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Aprendizado

Ele nunca me chamou de flor. Entretanto, me escrevia poemas onde assim me chamava. Jamais me dava ouvidos, mas ouvia tudo que eu dizia. Pouco me falava e tanto me fazia que nem poderia notar que suas poucas palavras eram suficientes para expressar tudo que eu queria ouvir. Não me fazia nada e, assim mesmo, estranhamente, me via satisfeita com tudo que ele fazia. Divertido é que eu sempre reclamava.

Todo dia ele calava enquanto eu reclamava de sua falta de postura, de seu comportamento infantil, das suas brincadeiras, de suas poucas juras de amor. Não suportava suas pequenas histórias com lições nas entrelinhas. Julguei tudo o que podia. Suas roupas, seu comportamento, suas histórias, seus sentimentos. E, ainda assim, ele não mudava. E perdi.

Seu silencio vinha do meu já sabido temperamento, quando contrariada em momentos de sangue quente, jamais escutava. Sua postura era a mais certa comigo, não reagia. Seu comportamento era infantil porque ele se sentia como uma criança comigo, não importava mais o mundo. E existe prova de amor maior que esta? Esquecer o mundo quando estava ao meu lado. Tudo era eu e ele naqueles momentos bobos e, hoje, lindos. Suas pequenas histórias eram as lições que eu deveria aprender. Ele as contava de forma terna e compreensível para que minha cabeça dura não o impedisse de tentar me ajudar quando eu tentasse interromper um sermão. A ele não importava nada se estivéssemos juntos. Seus sentimentos eram a prova viva de que alguém ama. Não os vi.

Perdi. Fiz tudo o quanto pude pra corrigir mas ceguei por tempo demais. O feri. O magoei. E tardei em enxergar todo o seu esforço. Daqui uma lição. Aprendi que cada um demonstra seus sentimentos de uma forma diferente. Não se deve tentar arrancar nada de ninguém. Correto é entender como os outros demonstram o que sentem. Por não saber disso. Perdi. Adeus.

sábado, 22 de março de 2008

João do tempo

Foi-se pondo entre os fatos da vida o que era certo de ser. Por algum motivo, em alguma hora já não era tão certo de ser o que era de fato. Mas o menino não desistia. Encontrava no tempo um ente querido (afinidade esta criada pela semelhança encontrada nas descrições dos personagens). Um ente querido e não visto. Ao mesmo tempo em que ali vivia, poucas vezes era notado. Em momentos era aclamado quando outrora era enxotado quando não desprezado.

Apenas foi-se sendo como era, é e sempre será o tempo. Passado para uns, presente para outros, futuro fosse para quem fosse. Já não mais queria ser certo, posto que nem o próprio tempo, a quem tanto se assemelhava, era. Tornou-se então relativo e, assim, feliz. Já não lhe vinham as mazelas e sofrimentos de ter de ser sempre. E com o tempo ele mudava. Assim como o tempo.

“Ser presente é ser presente no presente, ter sido futuro no passado e vir a ser passado no futuro” já dizia McTaggart. Não haveria de ser ele futuro de ninguém ou passado dos que fosse. Este seria apenas e somente presente dos presentes no presente.

Por fim, em sua vida, já nada era destino a ser mudado ou mantido. Como o tempo, preferiu ser criação do homem e seguir só o que lhe satisfazia, aceitar que os momentos se passassem hora lentamente, hora rapidamente. Já não averia o que fazer. E como o tempo, onde quer que fosse, seria eterno enquanto durasse entres aqueles que o os viam e nele acreditavam. Onde mais poderia chegar senão no seu lugar?

terça-feira, 18 de março de 2008

Água e Sol

Ao amanhecer fui novidade. Nos primeiros minutos em que o sol se dispunha a aparecer tornei-me um riacho calmo e acreditei ser perene. Fui leve e sem pressa como a eternidade, feito de paz e limpo como água virgem.

Pouco a pouco raiava o sol e pus-me a virar rio. E descobri que, como este, fui intermitente, que, mesmo que não quisesse, seria passageiro. A arrastar as sujeiras no meu caminho, hora limpando e hora sendo poluído por estas, quando não a encaminhar tudo à minha foz. Fosse ela qual fosse.

Até que o sol se impôs nesse dia claro. De tão clara a paisagem achei um leito perfeito por onde passei por muito tempo e encontrei um indo e vindo de afluentes onde minhas águas vinham e voltavam pelas pequenas passagens, curtos braços e achei um ciclo perfeito onde nascente e foz se encontravam num equilíbrio sem fim.

E quando o dia aqueceu quis mais. Fui mar. Saí de um ciclo calmo e perfeito para o imprevisível, hora calmo outrora revolto. Corri por aí aos mares e oceanos entre períodos de calmaria e tormenta. Rodei o mundo e achei mais um lugar onde haveria uma provável pureza. Mas não souberam cuidar, e fui espalhado por tantos lugares que ao mesmo tempo em que fui oceano, mar, rio, riacho, lago, poça, fui também parte da lama.

Então a noite chegou. E mais uma vez voltei a ser só um. Dentro de um poço fundo na escuridão até que consigam achar meu lençol e assim todo o resto de mim. Não me limito aos icebergs, sou um tanto d`água que se vê e um infinito que se é sabido mas dificilmente alcançado. Tornei-me, enfim, lençol freático. Próximo à superfície, contudo invisível.

Até que nasça o dia outra vez. Até que volte o sol e uma nova nascente me aceite como novo rio num outro ciclo desses que duram pra sempre.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Máscaras

A máscara era mágica. Tal como era mágico o que se sentia ao olhar a máscara. Ela ainda é. E como sendo, ainda é mágico o que se sente ao vê-la. As máscaras são. Logo, são máscaras belas a serem vistas. Portanto, algumas são. Sim. Algumas são especiais. Mais ainda, todas são mágicas. Todas têm um efeito mágico que é sentido assim que a máscara é mostrada. Estas só têm um defeito. Só podem aparecer separadas. Mesmo que já tenham tentado fabricar máscaras de “duas caras”. Assim mesmo, estas, como todas as outras, são apenas uma máscara. Mesmo que representem uma ou mais faces, não importa, são apenas uma máscara.

A cada instante vê-se estas, que nos cercam, e cada uma aparece na hora certa. Isso mesmo! Estão, de fato, programadas para aparecer nas horas precisas e exatas delas. Cada uma na sua hora. Algumas são diárias e outras não. As diárias não são tão especiais. Perderam certa magia com o passar do tempo – o desgaste não perdoa ninguém mesmo – e não são tão percebidas. Mas aquelas não tão freqüentes, sim, além da magia que já cabe às máscaras comuns, têm ainda o efeito mais intenso e mais claramente sentido. Alguns ainda duvidam que sejam máscaras aquelas. Há os que dizem ser um rosto de fato. Mas é inegável o efeito causado por aquelas. Sendo ou não máscaras.

Más? Não. As máscaras, a maioria delas, não são más. São úteis, necessárias, convenientes, adequadas, até indispensáveis. Apesar de algumas serem más. Porém não se julga uma família pelo comportamento da “ovelha negra”. Trocando em miúdos, as máscaras são as chaves que abrem as possibilidades de convívio entre os seres humanos. Como são mágicas estas máscaras. Como é mágico o que se sente ao olhar cada uma delas.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Novidades

É certo que viver agora é o que se há de fazer ou então sonhamos ou lembramos o tempo todo. E, se existem dois momentos para se deixar de viver temporariamente, seriam estes. Não é interessante esquecer experiências passadas se são elas as que dão base para que mesmos erros não sejam cometidos. Mas há de se convir que o presente é um experiência nova e, vendo por esse lado, não seria correto achar que no passado já se viveu tudo e o presente não passa de uma repetição.

Os conceitos mudam, os momentos, por mais semelhantes que sejam, são diferentes, e cada idéia se reforma com o tempo. Até mesmo as mais fixas no ser humano. Ou então as Américas jamais seriam descobertas posto que a Terra ainda seria plana e o horizonte um precipício. Sejamos desbravadores do presente então. Usando os conhecimentos e tecnologias atuais para conhecer novos territórios e experiências em nossas vidas. Nada pára.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Tudo bem. Vou levar isso a sério.