terça-feira, 18 de março de 2008

Água e Sol

Ao amanhecer fui novidade. Nos primeiros minutos em que o sol se dispunha a aparecer tornei-me um riacho calmo e acreditei ser perene. Fui leve e sem pressa como a eternidade, feito de paz e limpo como água virgem.

Pouco a pouco raiava o sol e pus-me a virar rio. E descobri que, como este, fui intermitente, que, mesmo que não quisesse, seria passageiro. A arrastar as sujeiras no meu caminho, hora limpando e hora sendo poluído por estas, quando não a encaminhar tudo à minha foz. Fosse ela qual fosse.

Até que o sol se impôs nesse dia claro. De tão clara a paisagem achei um leito perfeito por onde passei por muito tempo e encontrei um indo e vindo de afluentes onde minhas águas vinham e voltavam pelas pequenas passagens, curtos braços e achei um ciclo perfeito onde nascente e foz se encontravam num equilíbrio sem fim.

E quando o dia aqueceu quis mais. Fui mar. Saí de um ciclo calmo e perfeito para o imprevisível, hora calmo outrora revolto. Corri por aí aos mares e oceanos entre períodos de calmaria e tormenta. Rodei o mundo e achei mais um lugar onde haveria uma provável pureza. Mas não souberam cuidar, e fui espalhado por tantos lugares que ao mesmo tempo em que fui oceano, mar, rio, riacho, lago, poça, fui também parte da lama.

Então a noite chegou. E mais uma vez voltei a ser só um. Dentro de um poço fundo na escuridão até que consigam achar meu lençol e assim todo o resto de mim. Não me limito aos icebergs, sou um tanto d`água que se vê e um infinito que se é sabido mas dificilmente alcançado. Tornei-me, enfim, lençol freático. Próximo à superfície, contudo invisível.

Até que nasça o dia outra vez. Até que volte o sol e uma nova nascente me aceite como novo rio num outro ciclo desses que duram pra sempre.

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