domingo, 31 de agosto de 2008

Saudades

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Sem anseios, andou só e refletiu. Passo após passo sentindo nada. Nem vento, nem brisa, nem ar. Calor, frio. Aquilo tudo era lembrança. Não sentia mais nada. Vago. Deitou-se num banco, olhou para o céu, não viu claridade, nem escuro, só via lembranças. Tanto fariam seus olhos abertos ou fechados. Não sentia a temperatura do banco onde comportava seu corpo. Nada ouvia. Só ouvia lembranças.

Achava que eram sorrisos, histórias. Achava que ainda via aquela imagem toda. Era tudo ali, naquele mesmo lugar, ou próximo dali. E pensava ter tudo outra vez. Os breves momentos. Os suspiros, os olhares. Sentia, na verdade, saudades, mas não confessaria nem para si mesmo. E vivia aquele momento. Pensando que vivia. Sonhando com o passado, mergulhado nas lembranças. Só. Na verdade não se sentia só. Sentia-se tão bem acompanhado quanto poderia em toda sua vida. Imaginava estar perfeito e assim mesmo, consigo próprio, mesmo que mergulhado em seu imaginário, por hora tão real, debruçado em tanta felicidade, sentia-se, estranhamente, triste.

Olhava ao seu redor e aproveitava o momento. Registrava o cenário no qual se veria novamente, através de lembranças, e voltava sua atenção para o momento. Para os toques e suspiros que já não eram mais reais. Quando, vagarosamente, embaçava sua visão como se o momento se fosse. Ao passo que todo o verdadeiro odor, o estridente barulho, o vento forte passavam a substituir os sorrisos, os abraços, as conversas, o perfume se ia e a verdade voltava à tona. Uma pergunta com a resposta já estampada no peito lhe vinha às voltas. “Qual a sensação de saber que nunca mais terei aquele beijo?”

Levantou-se, não sorriu, caminhou e se foi.


(Influenciado pelo estilo da predicativa)

2 comentários:

• c. disse...

"Por esses dias eu me peguei tentando me explicar a falta que você me faz. E a contraditoriedade dessa saudade é exatamente esta, a impossibilidade de medida."

Achei lindo. De um conteúdo real. E, devo dizer, que fiquei extremamente lisonjeada por "exercer" alguma influencia. De verdade. Apesar dos méritos serem todos seus. Não sei nem o que dizer.

Apenas que a criatividade anda se bandeando para casa ao lado, só estou podendo usufruir dela de dias em dias. Mas não vou sumir.

um abraço.

Anônimo disse...

e há Augusto por aqui tambem ! És de fato ótimo ! Posso te add no orkut ?