terça-feira, 14 de outubro de 2008
Ideal Irreal
No carro, a câmera enquadra o rosto do homem (o motorista) e, enquanto abre o quadro abaixa e se fixa no corpo deste (entre o queixo e os joelhos).
- gostou do café, querida?
- sim, amor, como sempre. Estava perfeito. Te amo.
- e sempre estará. O maridão aqui faz tudo pra te agradar.
- eu sei querido, não é a toa que casei com o homem perfeito.
(sorrisos e carinhos)
- meu bem, segura aqui pra mim que não to gostando do meu cabelo assim hoje. Vou prender com o pitó.
- tudo bem, à noite você lembra de pegar no painel tá?
Chegam no trabalho da mulher.
- até mais tarde meu pitelzinho!
- até meu pão!
O homem vai até o seu trabalho. Desce do carro. A porta fecha.
Bem arrumado o homem vai até seu ambiente de trabalho. Chegando em sua mesa, levanta a vista. Aparece o relógio indicando 9:01. Pontualmente inicia seus trabalhos. O seu ramal toca. Vai até a sala da chefe com seu ar bem humorado e feliz. Recebe uma reclamação. A expressão de seu rosto tem os primeiros traços de raiva. Sente-se humilhado por não poder reagir. Volta para sua mesa. A bronca o leva a pensar em sua esposa num dia comum, em que a viu ser auxiliada por um rapaz quando passava em frente à padaria.
Lembra-se...
A mulher sai da padaria com várias compras e é ajudada por um rapaz. Desconhecido. Que leva as compras até o carro deles e vai embora.
De volta ao escritório...
O homem já sem o ânimo de mais cedo baixa a vista. Levanta a vista. O relógio marca 17:30. hora de largar. Volta ao carro.
Agora, no seu carro, podendo se exaltar, começa a ironizar e falar só enquanto se estressa com o trânsito (discretamente). Já vê-se que seu modo de passar as marchas e acelerar o carro não é o mesmo. O homem parece mais natural e interpreta a forma que tem que se comportar no trabalho com ironias.
- tudo bem chefe, admito que errei. Devo fazer o trabalho que me rendeu três dias de atenção novamente porque não ficou à sua altura. Acredito que também deva pedir desculpas por fazê-la perder tempo lendo tantas baboseiras (que, por ventura, são meu trabalho de TRÊS DIAS!)
Agora ele passa a agir mais naturalmente.
- essa rapariga! (Regionalismo) acha que é por estar num cargo acima do meu que toda opinião dela é mais válida que a minha. “A chefe é PHD” eles dizem. PHD porra nenhuma! Aquilo é uma vaca que se acha!
Chega ao trabalho de sua mulher.
A mulher saída porta do prédio onde trabalha e caminha até a calçada. O carro aparece nas fotos pela primeira vez. O carro pára, ela abre a porta do carro. Assim que abre, o som captado de dentro do carro volta enquanto ela se abaixa para entrar no carro.
A mulher não diz boa noite. Começa a falar do dia ruim e comentar sobre a vida alheia.
- você acredita que o menino do suporte a informática ta tendo um caso com a minha chefe. Vê se pode. Um menino que deve ter seus 23 com uma velha de 45. só pode ser por interesse mesmo. E a mulher ainda se exibe! Isso é por que é chefe! Senão, estaria preocupada com a tal “ética em ambiente de trabalho.
O som vai ficando mais distante, as palavras não são mais compreensíveis. Enquanto aquele ruído estranho circula no carro, as lembranças do seu trabalho e da padaria vêm à tona. O homem, estica o braço e pega o pauzinho que a mulher deixou no carro pela manhã. O carro pára. Suas mãos pressionam o objeto pontiagudo. A mulher pergunta.
- o que foi?
Escurece tudo e escuta-se um grito abafado. Volta ao corpo do homem que segurava o pauzinho. O pauzinho agora está envolto em sangue. O quadro abre e vemos o rosto do homem. Ofegante. Acabou de extravasar sua raiva. Escurece novamente. Volta ao rosto do homem. Vai ficando assustado. Percebe que acabou de matar alguém, matou sua mulher. Escurece outra vez. Quando o rosto volta a aparecer um sorriso de prazer se expõe em seu rosto apoiado em sua mão suja de sangue ainda com o objeto que matou sua mulher. Não sente culpa.
FIM
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Carta sem título
Ali, além dali, muito distante, ia eu ficando pequeno, pequerrucho, mínimo. Porque eras como a paisagem que por mais que se ande não se alcança. Eras a própria distancia, terreno inalcançável, fossa do mar. E eu, vivia aqui, a ouvir Chico Buarque e contemplar grandes passes do Rei do Futebol, ainda que não goste de futebol, via pela arte. Pude sentir, inúmeras vezes o calor de tuas mãos em meus cabelos antes de vê-la, huuum!
Mesmo que próxima e distante, bem ou mal foste mesmo meu colo quando havia ninguém. Minha tristeza era daquelas que te afoga em lágrimas ou faz perder-se dentro de si mesmo. E tentei, por várias vezes, disfarçar o meu falecimento sentimental, para não dizer minha morte interior, que, ó Deus! já vivia, eu, o encanto e a felicidade plena sem tu.
Na Veneza pernambucana, os canais impuros, as pontes, as paisagens. Nada mais era belo, nada mais era visto por mim. Mas sempre soube que chegar até você seria como subir para cima, repetir de novo, era como se todos os astros fossem unânimes em dizer: “Vai acontecer, é seu destino”.
E neste excelente estado, receoso, romântico, ridículo num raro momento, estaria, eu, pronto para senti-lo, o amor. Belo, nostálgico, indescritível chegaria a mim.
E eu disse: “Eu já sabia!”.
(Eu estudando figuras de linguagem. : P)
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Nosso
Tava pensando aqui com meus botões: "Por que eu gosto tanto do teu beijo se eu já beijei uma infinidade de moças nessa minha vida desregrada?".
Não demorou muito para tirar a conclusão, ou melhor, as conclusões.
1- você não é mais uma;
2- você é muito mais que linda;
3- a gente se sente do mesmo jeito quando está junto;
Quinta conclusão, não menos importante- eu adoro estar perto de você mesmo quando tenho que ficar "de longe" e, quando nos beijamos, não só encostamos os lábios e trocamos as línguas, também derrubamos as barreiras, vamos contra regras (por agora), provamos e demonstramos o quanto nos gostamos. Nosso beijo não é só especial por saudades ou por carinhos, é especial por ser nosso.
Já falei que você me inspira?
(Próxima parte do conquista sai esta semana a outra, tô sem tempo de seguir a linha)
sábado, 20 de setembro de 2008
Abordagem II
“Tens estado em meu café pela manhã, no livro que tenho lido, nas minhas conversas, tens estado em meus pensamentos todos os dias. Provocaste o que em mim é mais belo. Algo além da paixão, algo que comove. Hoje, sou encantado pela tua beleza e quero saber se posso encantar-me por ti completamente. Será que posso pedir-te esta noite para conhecer-te melhor e descobrir se toda esta disfunção em meus atos e comportamentos relativos a tu são, de fato, dignos de existir?”
Ela consentiu a noite, mas teve de confessar-se: “Em minha vida há outro alguém por quem não sei se ainda sinto. E tenho tanto interesse em tu quanto dizes ter em mim. Sob tais declarações ainda insistes em sair comigo?”
Sem praguejar deu um largo sim e a convidou ao local onde foram.
Diante dos gestos, das conversas que tiveram por toda a noite, seria impraticável evitar um beijo. Eis que sucedeu-se o dito que multiplicou-se em vários outros somados aos carinhos e às doces e sonhadoras palavras dele. Como era esperado, mas não tido como certo, o rapaz rendeu-se aos encantos da moça que, por sua vez, fez o mesmo. Eram agora amantes sem sombra de dúvidas.
Não esqueceram do outro alguém que a esta hora já estava a perder o título. E este não imaginara nada. Apenas vivia distante e aproximava-se quando era possível. Era o único empecilho que impedia o romance dos dois. Mas, a saudade é danada, e tornou-se personagem principal na evolução dos sentimentos. Deu-lhes mais vontade à medida em que se viam e não podiam aproximar-se. Começavam a deixar, inconscientemente, que o impedimento aumentasse o desejo e as emoções. Nada mais sedutor do que o amor proibido.
Dia após dia se viam e se olhavam e se mantinham distantes. Agora sabiam que partilhavam os mesmos pensamentos e sentimentos, tudo era uma questão de tempo. Enquanto ela procurava coragem para deixar o outro ele entendia os motivos da aflição e esperava pacientemente tentando ajudá-la e a conquistando mais e mais apenas através de palavras. Sem toques, sem flores. Poucos poemas e vários olhares, mas, principalmente com as palavras.
Continua
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
Abordagem I
Abriu a porta, postou-se naquela cadeira, no meio dos demais, e se colocou a observar o que passara. Em menos de dez segundos já se encontrava tão distante dali quanto poderia. Na verdade, não tão longe. Fora ali onde tudo sucedera. Colocava-se afastado em sentido de tempo, de dias atrás. E ali repassava tudo o que vivera naqueles dias passados, próximo dali, tão próximo. E, será que voltaria?
Ela, apressada, corria para não se atrasar. Recorrentemente pensava se fora ela errada ou se estaria errada em pensar, olhar ou falar da forma que falaria. Não, haveria a possibilidade de não vê-lo. Mas pensava se o visse. Subiu as escadas, postou-se à porta e olhou pela brecha, antes que este pudesse vê-la. O viu e titubeou em seus pensamentos.
Neste momento ele já a via. E lhe fraquejavam as pernas, forçavam as batidas no peito e tremiam-lhe as mãos. Disfarçava fingindo estar com frio. Ela chegou, e ele a olhou nos olhos sem saber bem como reagir. Via-se tímido, sem jeito, desconcertado. Por sorte a cena se passava rapidamente. Contudo, o momento de levantar-se de ambos seria o mesmo, e ali, não haveria como disfarçar as pernas, as mãos, o peito, ou correria o risco de se expor ao ridículo e usual que é o declarar-se brevemente.
Levantou-se de sua cadeira e seguiu em direção à porta quando foi abordada. Falava-lhe ele. Em tom breve e um pouco desconcertado o que lhe vinha no pensamento. Fazia-se de desentendida e dava-lhe toda a atenção. Respondeu as perguntas, riu das piadas e mostrou-se ciente de comentário que só pôde ser entendido pelos dois. Mesmo que dito diante daquela multidão. Ele não disse tudo o que queria pois, ali, não poderia e disse apenas que ainda tinha o que lhe falar e que o faria em outra ocasião. Ela mostrou-se disposta e aguardou o convite.
Continua