quinta-feira, 19 de março de 2009

Ah! O Amor


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Quão amável é o início do amor. Um olhar, um olá, a resposta, o diálogo, os sorrisos, a simpatia, o marcar. O lembrar, o despertar, o passar o dia, o reencontro, as conversas, as retomadas de assuntos, as histórias, os novos assuntos, a segunda despedida. Os sonhos, as esperanças, as lembranças, as expectativas, o frio na barriga, o pensamento constante, a ânsia, os telefonemas mais freqüentes, as conversas mais longas, as horas mais demoradas, os dias mais longos.
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O dia, a hora, o sorriso mais aberto, o abraço mais apertado, os olhares mais fixos, a espera pelo momento, as conversas mais desencontradas, o frio na espinha, o tentar disfarçar, o tocar mais as mãos, o ser mais aceito, a proximidade entre as cadeiras, os sorrisos desajeitados, os olhares mais perdidos, as palavras desconcertadas, o pedido, o consentimento, o beijo. O sorriso espontâneo, os comentários desnecessários, o segundo beijo, o carinho no rosto, o terceiro, quarto, quinto, sexto...
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O chegar bobo em casa, o ligar para saber se chegou bem, o jantar com nome, o sono leve, o despertar contente, o café da manhã com sobrenome, a espera pela hora certa, as horas e minutos ainda mais lentos, a hora certa, saudades estranhas, um novo reencontro, o sétimo, oitavo, nono, os elogios, passeios, declarações, presentes, saídas, o palpitar animado do coração, o décimo, perder as contas, os carinhos, os abraços mais longos, as certezas, o “eu te amo”.
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A surpresa, a alegria, a resposta eco: “eu te amo”, mais alegria, mais beijos, mas abraços, mais fortes, mais vontade, mais carinhos, mais passeios, mais vida, mais segurança, mais amor. Dá até vontade de amar outra vez.
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Augusto Simões

segunda-feira, 9 de março de 2009

Ensaio sobre a cegueira, surdez (sobra a omissão)

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Já ouvi falar muito que o pior surdo é aquele que não quer ouvir, contudo, uma recente estréia parece ter se enganado com o sentido escolhido. Ensaio Sobre a Cegueira retrata uma hipótese semelhante à uma realidade vivida atualmente. Contudo um título mais adequado seria: “Ensaio Sobre a Surdez”.

Não precisa ser um ambientalista ou um membro do Greenpeace para ter noção do que se passa no mundo. Previsões de catástrofes, derretimento do gelo nos pólos, superaquecimento global e o velho buraco na camada de ozônio que nos tem causado tantos cânceres já não podem ser chamadas de notícias recentes e, ainda assim, lá vamos nós ouvir pessoas se lamentando e dizendo que só Deus pode ajudar – afinal, parece que o ser humano se inocenta de qualquer responsabilidade quando se trata da natureza.

E porque não condenar os culpados de fato, afinal, Deus, se é que ele existe de fato, nos deu o planeta e não se dispôs a ser o faxineiro. Na verdade, é hora de apontar os reais responsáveis por nossas chuvas que inundam São Paulo, pelas cheias nos canais imundos de Recife, pelos tornados já frequentes no sul do país.

Qualquer um que tenha acesso à TV, jornal, rádio ou qualquer campanha sabe que não são espíritos que jogam o lixo num terreno a céu aberto, não é o mar que faz os navios vazarem óleos, não é nenhum rato que entope bueiros nem joga sacos de lixo nos rios. O homem que se prejudica com cada um dos resultados destes atos é o que, além de causar, sofre com as conseqüências clamando por um por quê quando se vê no desespero. Somos sim os maiores culpados pelos desabrigados em SC, pelos prejuízos em SP, pelos canais de Recife e até pelo aquecimento do planeta.

Soluções? São apresentadas todos os dias. Atitudes simples como separar o lixo orgânico do reciclável, assim, diminuindo o tempo de degradação nos nossos tão bem estruturados lixões; não jogando cigarros, embalagens de comida ou qualquer objeto para evitar o entupimento dos bueiros; protestando contra a emissão de gases poluentes dos nossos governos.


A pena é que a surdez e a cegueira são tão recorrentes que este não vai passar de mais um aviso, de mais um apelo. Nossa omissão está destruindo o planeta e você, caso haja como a maioria, pensando “puxa, é mesmo!”, e voltando à sua vida normal vai ser mais um surdo a se perguntar: “Porque, Deus?”. Uma coisa eu garanto, não vai ouvir a resposta.


Augusto Simões

domingo, 25 de janeiro de 2009

Diálogo

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Não sei se há maldade no que me dizes ou se dizes apenas maldades sem ao menos as verdades saber. Sei sim que me dizes tanto quanto podes dizer e me falas de tanto quanto podes lembrar além de vês verdades nessas maldades que dizes. E, de tanto que falas destas tuas verdades, das minhas maldades, vejo que crês em todas elas, contudo, faço-me pacífico ao escutá-las. Vejo que me vês tanto sobre tuas verdades, em ti, inquestionáveis que não faço-as mentiras de cara. Dou-te tempo e crédito nas verdades tão más e nas maldades tão verdadeiras que me trazes. As ponho em pauta e acredito nelas assim como te postas a crer. Em seguida, como faria e faço com cada uma das minhas verdades, as questiono, em alta voz, diante de ti, e articulo claramente cada palavra que se esvai da minha boca crendo que estas vão tornar-se razão, reflexão ou, ao menos, algo que torne sua opinião mais disposta a mudanças. Então, munido de perguntas e de respostas prováveis, te chamo para uma resolução mútua, trago respostas possíveis e impossíveis e começas a te confundir com o que falo, trago-te mais e mais visões a respeito do fato e conservo o que havia de correto em tua posição. Neste meio tempo, corrijo minhas impressões erradas e peço que faças o mesmo. Aos poucos, frase a frase, fato a fato, clareias nossas visões, vês as mentiras e maldades nas verdades que te eram tão corretas e intactas e me fazes entender o que tanto te incomoda em minha conduta, criamos novas rotas, novos pensamentos, nos aproximamos mais, nos envolvemos mais, nos abraçamos e, pedidos e aceitados os pedidos de desculpas, fazemos as pazes e voltamos a ser felizes.


Augusto Simões

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Ideal Irreal (O curta)

Não ficou como eu queria, mas... aí está.

http://www.youtube.com/watch?v=UuxDoxIhi8o

sábado, 27 de dezembro de 2008

Café da Manhã

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Seguiu o dia à poética. Todo o dia era bom. O sol que raiava, os pássaros cantavam como de costume, mas, antes, nada era percebido, hoje poderia correr de casa até o trabalho. Primeiro, pediu-lhe que descansasse mais, iria só até o trabalho, já lhe fizera tão bem na noite anterior que não haveria de considerar, depois de um sonho vivido e um café na cama, indelicadeza que este voltasse aos seus sonhos – visto que não lhe era de hábito despertar tão cedo. Deu-lhe um beijo, até parecia o primeiro, na porta de casa e seguiu, sem parecer atrasada, para suas funções diárias.

Já em seu escritório, sua modesta sala de duas mesas e um computador, não conseguia deixar de lado a sensação de bem estar. Seu chefe parecia mais calmo, bem alinhado, imaginava que sua esposa também lhe fizera bem na noite anterior. Em seu estado não poderia relacionar a felicidade com qualquer outra coisa. Pudera, já se passava muito tempo desde que vivera aquelas emoções da última vez.

Abrindo seu e-mail, em busca se informações ou novidades burocráticas a cerca de sua vida prática, deparou-se com surpresa incomum. Havia lá uma mensagem de título “Café da Manhã” cujo remetente era o homem que deixara dormindo mais cedo.Ainda achava disposição para surpreende-la. Dizia o texto:

“Não há bom dia mais feliz do que aqueles que recebo de você. Aqueles ainda na cama, com remelas, num sorriso, com uma cara amassada, com cabelos asanhados, num despertar macio e apaixonado, com um beijo na nuca, com uma disposição incomum de se mover logo de manhã, com fome, num carinho só nosso. Não há bom dia mais feliz do que aqueles que recebo com seu amor, depois de dormir ao seu lado e acordar com seus beijos e seu ar apaixonado! AMO-TE!”

Rendeu-se à tal delicadeza, acanhou-se e, tímida, sorriu.